29 Jan 2021
8 min

A EDP e o ISEG juntaram-se para a realização de um estudo sobre pobreza energética. Os resultados são claros: Portugal é um dos países com maior percentagem de pobres, energeticamente falando. Mas as soluções são mais simples do que se pode pensar.

Uma manta nas pernas enquanto se está no sofá a ver televisão. A imagem faz parte de uma enorme percentagem de lares portugueses. De tal forma que se normalizou: é aceite que se sinta frio em casa. Da mesma forma que, no verão, é expectável passar noites em branco com o excesso de calor que se faz sentir nas casas. Mas não deveria ser assim. O que se tornou culturalmente aceite em Portugal, na verdade, são exemplos claros de que são muitos os lares portugueses onde se vive em pobreza energética. “Em Portugal é culturalmente aceite passar frio na própria casa, isto não acontece noutros países. Estamos na cauda da Europa neste tema. Portugal tem quase o dobro da pobreza energética, existem entre 10 a 18% de pobres energéticos no nosso país. Há muita gente a passar muito frio em Portugal e há pessoas a morrerem de frio em Portugal”, afirma Selwin Wever, responsável por Projetos Especiais na Direção de Desenvolvimento de Produto e responsável, por parte da EDP, do estudo realizado em parceria com o ISEG, sobre Pobreza Energética em Portugal.

Este estudo procurou, não apenas explicar e quantificar a pobreza energética em Portugal, mas também apontar soluções. “O estudo permite perceber que temos muito mais pobreza energética em Portugal do que noutros países, por várias razões - económicas, culturais - e permite perceber quem são essas pessoas, onde é que elas estão. Tirou-se uma fotografia muito clara do que há a fazer e depois apontou-se alguns caminhos”.

Antes dos caminhos, porém, é necessário entender exatamente o que é a pobreza energética. O estudo é muito claro: “Ser pobre energeticamente é não ter dinheiro para ter as condições mínimas de conforto dentro de casa, normalmente no inverno, mas também no verão”. Ou seja, “não é exatamente a mesma coisa ser pobre ou ser energeticamente pobre”. Ser energeticamente pobre pode estar relacionado com baixos rendimentos, “mas também com hábitos culturais e com o património arquitetónico. Por exemplo, no passado, em algumas regiões do país, as pessoas tinham animais na parte de baixo de casa e isso ajudava a aquecer, assim como as lareiras. As construções mais antigas tinham paredes muito espessas e adequadas ao nosso clima. Depois, as construções das décadas de 1970-80 foram um retrocesso grande a este nível”.
 

Selwin Wever

“Ser pobre energeticamente é não ter dinheiro para ter as condições mínimas de conforto dentro de casa, normalmente no inverno, mas também no verão”
Selwin Wever, Responsável Projetos Especiais - Direção Desenvolvimento Produto

Como se resolve a pobreza energética em Portugal?

Segundo este estudo, a solução para a pobreza energética em Portugal tem um número: 400 milhões de euros por ano. Este avultado número pode, no entanto, não ser a melhor forma de resolver este problema, como explica Selwin Wever. “O combate tem de ser feito numa ótica de resolver o problema pela raiz. Da mesma forma que não podemos resolver uma gripe com comprimidos para baixar a febre, temos de ir ao cerne da questão e isso é melhorar a eficiência energética destas casas”.

E esta melhoria - o combate ao chamado gap energético (comparação entre consumo efetivo das famílias e consumo de referência adequado para um nível normal de bem-estar) - pode ser feita com passos muito simples:
 

3 passos para a eficiência energética

Estas medidas, além de simples, são a prova de que a erradicação da pobreza energética em Portugal é possível e através de valores bem mais realistas que os já referidos 400 milhões por ano. Aliás, valores realmente diferentes. E essa é a grande conclusão deste estudo: “Analisando uma família portuguesa média, numa habitação média, percebeu-se que o que gastaria para pôr a sua casa em conforto, é cerca de 27 a 40 euros por indivíduo/mês, ao longo de um ano. É este o valor para passar de viver com desconforto a viver com conforto”.

No entanto, explica Selwin Wever, “o tema da pobreza energética tem sido relativamente ignorado pelas entidades responsáveis. Não há tantas políticas ativas em Portugal como em outros países com situações de pobreza energética menos graves que a nossa. Há muito a fazer em Portugal neste aspeto, mas para estes caminhos serem acelerados são necessárias medidas e incentivos. O Programa Edifícios mais Sustentáveis, que esgotou em 3 meses a verba de 4.5 milhões de euros disponível para apoiar a melhoria de edifícios residenciais, é um exemplo de um incentivo a reforçar.” Até porque, com casas mais eficientes e consequentemente um menor índice de pobreza energética, estamos, todos juntos, a contribuir para a diminuição de a emissão de gases efeito estufa e um futuro mais verde.