António Mexia, Presidente do Conselho de Administração Executivo.

Caro Acionista,

Ao longo dos últimos 12 anos temos vindo a antecipar as tendências do setor da energia e a alinhar o nosso modelo de negócio com a transição energética para o combate às alterações climáticas – um imperativo para quem está comprometido em criar um mundo mais sustentável para as gerações futuras.

A nossa estratégia resultou na criação de uma empresa global líder em renováveis. Hoje somos o segundo player mais verde da Europa, com 65% do EBITDA gerado a partir de fontes renováveis num total de 21 GW de capacidade instalada com uma exposição internacional considerável, com mais de 60% do EBITDA recorrente gerado fora de Portugal.

A aposta no desenvolvimento sustentável tem sido um dos principais eixos de negócio incorporado na nossa estratégia, com objetivos claros e exigentes para o futuro. E a prova disso é o facto de estarmos presentes, desde 2008, no Dow Jones Sustainability Index (DJSI) sempre com uma posição de liderança entre as empresas mais sustentáveis do mundo.

Estamos cientes do papel que teremos de desempenhar no esforço global para descarbonizar o mundo e atingir o objetivo de limitar o aumento da temperatura global a 1,5ºC. Comprometemo-nos e tencionamos cumprir as metas ambiciosas do pacote legislativo Clean Energy for all Europeans, que visa uma União Europeia neutra em carbono em 2050. Assim, hoje é claro que a energia do futuro será sem dúvida elétrica e:

  1. Limpa, com uma tendência crescente para a descarbonização, em que as utilities têm um papel cada vez mais importante, já que representam cerca de 40% das emissões;
     
  2. Acessível, um paradigma que irá acentuar-se com a redução dos custos das renováveis, tornando estas tecnologias ainda mais competitivas;
     
  3. Fiável, com flexibilidade assegurada por sistemas de backup tais como baterias, reservatórios hídricos para bombagem e térmicas;
     
  4. Focada no cliente, criando novas soluções e serviços assentes em eficiência energética, geração distribuída, adoção de baterias e a adesão à mobilidade elétrica.

Como vos referi no ano passado, a revolução que estamos a viver no setor da energia caracteriza-se por “3Ds”: Descarbonização, Digitalização e Downstream, ao qual hoje se junta a necessidade de full disclosure da atuação da empresa. Estas são tendências que a EDP soube antecipar, pelo que estamos muito bem posicionados para o futuro. O nosso ponto de partida único e distintivo, totalmente alinhado com uma transição energética indispensável e irreversível, coloca-nos numa posição privilegiada para aumentar a ambição e o foco na nossa visão.

Um ano exigente pelo contexto regulatório em Portugal

2018 foi um ano particularmente difícil, em que fomos confrontados com questões regulatórias não previsíveis e injustificadas em Portugal, levando a uma quebra acentuada dos nossos resultados. No entanto, mantivemos o foco, com uma aposta contínua e um desempenho acima do esperado na EDP Renováveis, no Brasil e em Espanha. Estes contributos vieram mitigar os prejuízos registados, pela primeira vez desde o início da privatização, no negócio convencional em Portugal.

A performance do Grupo EDP em 2018 esteve assente em três vetores estratégicos, concretamente:

  1. A continuação de uma estratégia de crescimento focada nas Renováveis e no Brasil: ?Nas Renováveis, a EDP construiu mais de 800 MW de eólicas onshore e de solar e assegurou contratos de longo prazo para 1,3 GW, dos quais 0,4 GW relativos a dois projetos solares de dimensão acrescida - um nos Estados Unidos (0,2 GW) e um no Brasil (0,2 GW). Também na energia eólica offshore foi um ano bastante dinâmico com o início da construção do parque Moray East, em Dezembro, e com a aquisição do direito exclusivo para desenvolver um parque de até 1,6 GW nos Estados Unidos, no âmbito de uma joint-venture com a Shell. Por último, 2018 foi também marcado pela aposta na tecnologia flutuante com o início da construção do Windfloat Atlântico, potencialmente a forma mais eficiente de produzir energia renovável em países densamente povoados e de águas profundas. ?No Brasil, o crescimento suportou-se na conclusão do primeiro de cinco lotes de transmissão, 20 meses antes do prazo definido inicialmente, e na aquisição de 23,56% da CELESC, que nos garantiu o envolvimento na administração da empresa.
     
  2. Uma contínua otimização do portefólio através da concretização da primeira venda de uma participação maioritária - 80% do capital, num portefólio de ~500 MW que integra parques eólicos nos EUA e Canadá, com um ganho de capital de 129 milhões de dólares - e da venda de posições minoritárias em projetos offshore, nomeadamente no Reino Unido (43%) e em França (13,5%). Estas vendas e partilhas de risco permitem não só reciclar capital, como também cristalizar valor num período de tempo mais reduzido. Ainda neste âmbito, a EDP alienou atividades não estratégicas e de escala reduzida, como a biomassa em Portugal e ativos mini-hídricos em Portugal e no Brasil.
     
  3. Um foco na eficiência operacional, que permitiu atingir o target do OPEX IV dois anos antes do previsto, gerando uma poupança de 200 milhões de euros. Do ponto de vista do financiamento, vendemos 1,3 mil milhões de euros de défice tarifário, fomos pioneiros em Portugal na emissão de uma Green Bond no valor de 600 milhões de euros e assegurámos o financiamento do projeto Moray East num montante total de 2600 milhões de libras, um marco na energia renovável à escala global. Adicionalmente, a EDP procedeu à captação de fundos em Tax Equity Deals com as condições mais favoráveis dos últimos 10 anos. Tudo isto permitiu uma redução da dívida em cerca de 3%, face ao período homólogo.

Do ponto de vista operacional pode considerar-se a performance da empresa como positiva. Se excluirmos efeitos cambiais, o EBITDA do Grupo registou um aumento de 2%, em resultado de um crescimento sustentado no Brasil e nas Renováveis (apesar de uma fraca eolicidade, 6% abaixo da média de longo prazo), bem como de uma forte recuperação da hidraulicidade e de um rigoroso controlo de custos na Península Ibérica.

Porém, os resultados do Grupo foram fortemente penalizados pelas interpretações políticas sobre o regime dos Custos de Manutenção do Equilíbrio Contratual (“CMEC”), designadamente no que respeita à revisibilidade final e aos alegados custos inovatórios, o que representou um custo total não-recorrente de 303 milhões de euros. Conforme já comunicámos ao mercado, a EDP considera que tais decisões violam a lei e os contratos celebrados, com uma moldura contratual definida a partir de 1995-1996 para viabilizar a companhia e a sua privatização, pelo que tomou as medidas necessárias para proteger os interesses e direitos de todos os seus stakeholders.

Em Portugal, foram também mantidos outros impostos específicos sobre o setor, apesar de alguns terem na sua génese uma natureza extraordinária. Em suma, os nossos resultados registaram um impacto negativo de 672 milhões de euros devido a medidas regulatórias adversas e impostos ou taxas aplicadas ao setor.

Apesar deste impacto regulatório em 2018, permanecemos positivos e acreditamos que a política energética dos próximos anos permitirá a estabilidade fundamental para fomentar o investimento e assegurar a transição energética.

Por fim, do ponto de vista financeiro, a EDP registou uma redução acentuada de 53% no resultado líquido reportado em 2018, para 519 milhões de euros, fruto sobretudo da situação regulatória em Portugal, geografia que contribuiu com um resultado líquido negativo no ano. No entanto, excluindo de efeitos extraordinários, o nosso lucro líquido recorrente subiu 3% para 797 milhões de euros.

Importa ainda referir que 2018 foi marcado pelo lançamento de uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) pelo nosso maior acionista, a China Three Gorges (CTG), sobre o capital social da EDP e da EDP Renováveis. Reportando-se à proposta apresentada, o Conselho de Administração Executivo comunicou a sua posição ao mercado em Junho do ano passado.

Uma empresa centrada no cliente

No último ano ajustámos a estrutura organizacional da nossa atividade comercial com vista a adaptar as soluções do nosso negócio a um cliente mais consciente, mais exigente e mais digital. O objetivo foi claro: maior criação de valor através da apresentação de propostas inovadoras na área dos serviços.

Criámos a e-factory, que visa acelerar o desenvolvimento de produtos e serviços para podermos continuar a evoluir em linha com as ambições do nosso cliente, com um foco claro na eficiência energética, na microgeração e na mobilidade elétrica. Hoje, já somos percecionados pelos clientes empresariais, com especial destaque para as pequenas e médias empresas, como mais do que um fornecedor de eletricidade e gás, tendo registado o maior aumento anual de sempre na venda de serviços para clientes B2B na Península Ibérica (57%).

Para a EDP, a gestão da relação com o cliente é crucial pelo que este desenvolvimento de novas competências foi também focado no aumento da qualidade do nosso serviço, o que permitiu garantir uma maior satisfação dos nossos clientes, 78% em 2018 (+2p.p. que em 2017), através, por exemplo, do uso de soluções de inteligência artificial. Esta satisfação, permitiu manter o nosso portefólio de clientes que conta com 9,8 milhões de clientes na eletricidade e 1,6 milhões de clientes no gás.

No plano da mobilidade elétrica, um vetor cada vez mais relevante no esforço global para a descarbonização, temos vindo a afirmar-nos como um player fundamental na sua promoção, não só em Portugal mas também nas restantes geografias onde estamos presentes.

Em Portugal, continuámos a apostar no alargamento da rede de postos de carregamento. Já foram efetuados 50 mil carregamentos desde 2017, o que permitiu evitar a emissão de cerca de 423 toneladas de CO2. Foram criadas novas soluções de carregamento, tanto para espaços privados, com a EDP Wallbox que permite uma gestão mais eficiente dos consumos e um maior controlo da potência contratada, como públicos, com a parceria com a BP para instalação de 30 novos postos nas estações de serviço. No Brasil, lançámos com a BMW o maior corredor elétrico da América Latina, passando a ser possível viajar de carro elétrico entre o Rio de Janeiro e São Paulo. Também em Espanha continuamos a investir, contando já com mais de 80 postos de carregamento nas Astúrias.

2018 foi também o ano da digitalização na EDP Distribuição, com o lançamento de novas funcionalidades na sua aplicação informática (app) destinada a simplificar a interação com todos os stakeholders, dos clientes aos municípios, e a implementação de 15 iniciativas de robotização de processos, com um potencial de poupança de ~50 mil horas de trabalho. Em paralelo, prosseguimos o esforço de implementação das redes inteligentes, contando já a EDP com cerca de 2,6 milhões de contadores inteligentes instalados na Península Ibérica, com destaque para Portugal que apresentou um crescimento de 51% face a 2017.

O nosso sucesso está nas nossas pessoas

2018 foi um ano focado na diversidade e inclusão no Grupo EDP.

A forte aposta dos últimos anos no equilíbrio de género traduz-se hoje numa realidade em que 25% dos nossos quadros são mulheres, número que é considerável se atendermos ao facto de este ser um sector tradicionalmente masculino. Mas continuamos determinados em percorrer este caminho, bem como em reforçar a nossa diversidade noutros parâmetros, porque sabemos que é através desta política que trazemos novas abordagens e mais valor para o nosso negócio.

Sendo uma empresa global, contamos hoje com colaboradores de mais de 40 nacionalidades e uma procura crescente pela contratação de novos perfis mais analíticos e tecnológicos, alinhados com a transformação digital e renovação geracional da nossa companhia. Estes novos talentos com perfis diferentes, e que em 2018 corresponderam a cerca de 17% das nossas novas admissões, aliados ao conhecimento profundo do negócio daqueles que já trabalham connosco, irão permitir reforçar o nosso posicionamento enquanto empresa global e de referência na transição energética.

Queria também destacar o papel dos nossos voluntários. O programa de voluntariado mobilizou este ano mais de 3.000 voluntários, que dedicaram mais de 31.000 horas do seu tempo a causas sociais. É um número que nos orgulha e que mostra que a capacidade de entrega e dedicação das nossas pessoas vai muito além do contributo que dão para os resultados do Grupo EDP.

Outro exemplo da excelente capacidade de resposta das nossas equipas foi a atuação na sequência das catástrofes naturais que assolaram Portugal. Quero deixar uma palavra de reconhecimento a todos os que apoiaram e contribuíram na resolução dos vários incidentes resultantes do furacão Leslie e dos incêndios.

Um caminho ambicioso na sustentabilidade

Sabemos que o nosso papel não se esgota na relação que mantemos com os clientes e colaboradores e que temos de ir mais além no nosso contributo para a sociedade. É por isso que continuamos a atuar de forma empenhada no desenvolvimento de áreas como o ambiente, a cultura, a educação, a segurança, a saúde e o bem-estar social em todas as geografias em que estamos presentes.

Temos muito claro o propósito de colocarmos a energia ao serviço de modos de vida mais sustentáveis e há mais de uma década que, antecipando as principais tendências globais e os futuros desafios, apostamos fortemente em energias renováveis, eficiência e inovação.

No topo da agenda estratégica está o compromisso em demonstrar o nosso desempenho no quadro dos 10 princípios da Global Compact, iniciativa das Nações Unidas, com foco na área dos Direitos Humanos, do Trabalho, do Ambiente e do combate à corrupção, bem como o nosso contributo na concretização de nove dos dezassete Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 das Nações Unidas. A participação da EDP no World Business Council For Sustainable Development (“WBCSD”) e a minha nomeação para presidente da direção do BCSD Portugal e para presidente do conselho administrativo do SEforALL refletem também a nossa visão e o nosso compromisso com um desenvolvimento mais sustentável, num momento em que as alterações climáticas estão à vista de todos.

Em 2018, destaco a nossa contribuição ativa para acelerar a descarbonização dos transportes, com um compromisso para eletrificar a totalidade da nossa frota de ligeiros até 2030. Estamos também empenhados em desenvolver novas ofertas e soluções comerciais que promovam a transição energética, bem como em mobilizar a sociedade para a eletrificação dos transportes.

Importa salientar que continuamos a ser o principal mecenas empresarial da cultura em Portugal. Em 2018, o MAAT e a Central Tejo contaram com 17 exposições e mais de 327.000 visitantes. No Brasil, reforçámos o nosso papel com o apoio à reconstrução do Museu da Língua Portuguesa em São Paulo. Na componente social, o investimento do Grupo EDP totalizou 28 milhões de euros, tendo já superado aquilo que era o objetivo inicial de aplicar 100 milhões de euros no período 2016-2020.

A EDP é hoje uma empresa que estende os princípios éticos a todas as dimensões da sua atividade. No plano interno, através da formação e do contínuo reforço dos procedimentos de auscultação, monitorização e auditoria. No plano externo, envolvendo fornecedores e parceiros na subscrição das boas práticas e auditando continuadamente as atividades.

Um futuro ainda mais verde

A EDP está hoje muito bem posicionada para assumir a liderança na transição energética e abraçar os novos desafios do futuro entregando valor superior aos nossos acionistas. O nosso portefólio, essencialmente verde, coloca-nos numa posição privilegiada para implementar a nossa visão com base em 5 pilares estratégicos:

  1. Crescimento acelerado e focado, com uma aposta clara em energias renováveis usufruindo das competências e capacidade de execução desenvolvidas ao longo da última década;
     
  2. Contínua otimização do portefólio, recorrendo à venda de participações maioritárias nas renováveis, como forma de acelerar o crescimento orgânico e a cristalização de valor, e também à venda de outros ativos para permitir equilibrar o perfil de risco da EDP;
     
  3. Balanço sólido e baixo perfil de risco, com foco na redução da dívida, no curto prazo, com o objetivo de melhorar o nosso rating;
     
  4. Eficiente e digitalmente habilitada, através da contínua implementação de projetos de eficiência e digitalização potenciados pela natural renovação geracional das nossas pessoas, permitindo uma organização mais flexível e global;
     
  5. Remuneração atrativa para os nossos acionistas, com base no posicionamento distintivo e verde da nossa empresa, no crescimento sustentado dos lucros e numa política de dividendos atrativa.

O nosso sector está a atravessar uma revolução e a EDP, graças à sua estratégia de antecipação e à capacidade de entrega dos últimos anos, posicionou-se de forma inequívoca no caminho certo. Este percurso será desenvolvido com uma ambição clara para 2030, onde continuaremos a contribuir ativamente para a descarbonização da economia através da redução das nossas emissões de CO2 em 90% (comparado com 2005) assente, sobretudo, numa geração a partir de fontes de energia renovável (em mais de 90%) e na saída do negócio do carvão. Junto dos nossos clientes, vamos também promover a mobilidade elétrica com o objetivo de atingir 1 milhão de clientes em 2030. Por outro lado, vamos prosseguir com o esforço de digitalização e descentralização, nomeadamente com a transformação da nossa organização, a transição para as smart grids na Península Ibérica e a instalação de mais de 4 milhões de painéis solares junto dos nossos clientes.

Convido-vos a conhecerem em maior detalhe a nossa operação ao longo das páginas deste relatório e a acompanharem a forma como estamos a preparar o futuro – um futuro mais digital, mais renovável e mais sustentável. Um futuro que será elétrico.