Transcrição Podcast - Qualidade do Ar

Informações:

Duração do audio: 00:44:46

Convidados: Ana Paula Mesquita e Francisco Ferreira

Entrevistadora: Catarina Barreiros

 

Transcrição:

Somos todos agentes de mudança. E juntos podemos transformar o mundo. É agora ou nunca! Um podcast EDP que discute o presente e procura soluções para um futuro mais sustentável.

Catarina Barreiros: Bem-vindos a mais um episódio do podcast “É agora ou nunca”, um podcast EDP sobre sustentabilidade. E hoje, vamos falar sobre a qualidade do ar. Vamos perceber em que é que este tema se insere nos ODSs (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) das Nações Unidas, vamos perceber quais são as indústrias mais poluentes, e, também, qual é o papel da eletrificação da economia no que diz respeito à qualidade do ar. Comigo, para falar sobre este tema, temos dois especialistas. Temos Francisco Ferreira, licenciado em engenharia do ambiente, pela FCT (Faculdade de Ciências e Tecnologia) Nova, onde, atualmente, é professor e investigador do CENSE e têm-se dedicado sobretudo às áreas da qualidade do ar, das alterações climáticas e desenvolvimento sustentável. Foi vice-presidente e presidente da QUERCUS e membro do Conselho Nacional da Água e do Conselho Nacional do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. Atualmente, é presidente da Zero. Ana Paula Mesquita, licenciada em engenharia do ambiente pela Universidade de Aveiro, onde, mais tarde, fez o mestrado em Poluição Atmosférica. Colaborou também com a Direção Regional do Ambiente, com a Agência Portuguesa do Ambiente, e ainda com a Inspeção Geral do Ambiente. Desde o ano 2000, está na EDP, na direção de sustentabilidade da EDP Produção. Obrigada aos dois por estarem aqui.

Ana Paula Mesquita: Obrigada.

Catarina Barreiros: E vamos já começar pelo primeiro grande tema, que é a qualidade do ar e os ODSs. Como é que se insere este tema da qualidade do ar, de que tantas vezes não ouvimos falar. Ouvimos falar de muita coisa relacionada com a sustentabilidade, e o que é que nós temos de relação entre o ODS 11, das cidades e das comunidades sustentáveis, e do ODS 13, no que diz respeito à qualidade do ar?

Francisco Ferreira: Bem, Catarina, o que é facto é que eu acho que é pouquinho nós falarmos apenas destes dois ODS, destes objetivos para o desenvolvimento sustentável, porque realmente a qualidade do ar acaba por estar presente em outros objetivos. Estava a pensar, por exemplo, no objetivo relativo à educação.

Catarina Barreiros: Hum-hum.

Francisco Ferreira: No objetivo relativo à saúde com qualidade, que é o ODS 3, também no que diz respeito aos ODS 14 e 15, que têm a ver com o proteger da vida marinha e da vida…

Catarina Barreiros: Hum-hum.

Francisco Ferreira: …terrestre. Também no que diz respeito às fontes de energia. E, portanto, a qualidade do ar acaba por ser…

Catarina Barreiros: Transversal?

Francisco Ferreira: Transversal. Aliás, o ar, se pensarmos, há sempre aqui um… quem trabalha na parte da qualidade do ar, tem aqui sempre um argumento forte, que é: “Bem, eu posso ficar sem comer uns quantos dias, também sem beber menos dias…”, mas, quer dizer, sem respirar…

Catarina Barreiros: Sem respirar…

Francisco Ferreira: …eu não me safo.

Catarina Barreiros: Certo.

Francisco Ferreira: E, portanto, não dá mesmo para aguentar muito tempo. E por isso mesmo, a qualidade do ar é tão pertinente, e relaciona-se muito com, sem dúvida alguma, o objetivo das cidades sustentáveis, porque é nas cidades que eu vou ter atualmente as maiores preocupações. Cada vez eu estou a conseguir reduzir mais emissões associadas à indústria, mas, nas cidades, eu ainda tenho uma grande prevalência do transporte rodoviário…

Catarina Barreiros: Claro.

Francisco Ferreira: … principalmente do uso individual do automóvel. E, por outro lado, porque, no que diz respeito ao grande problema que nós temos da humanidade, neste século, que são as alterações climáticas. O que é facto é que quase todas as medidas que eu posso tomar para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa, que são causadoras do aquecimento global e das consequentes alterações climáticas, são também medidas que melhoram a qualidade do ar. E, portanto, se pensarmos, por exemplo, em Portugal.

Catarina Barreiros: Hum, hum.

Francisco Ferreira: Em Portugal, o principal setor responsável pelas emissões de gases com efeito de estufa, associados às alterações climáticas, é o setor dos transportes, principalmente o transporte rodoviário. Então, e na qualidade do ar? É a mesma coisa. Portanto, quer falemos do dióxido de carbono, que não é habitualmente considerado um poluente com efeitos para a saúde no ar exterior, quer… mas, no ar interior, já pode ser problemático, quer falemos de outros poluentes, que não são gases com efeito de estufa, o que é facto é que a qualidade do ar acaba por estar em muitos destes objetivos, que são cruciais para nós atingirmos a sustentabilidade.

Catarina Barreiros: Então, quando falamos destes objetivos e desta transversalidade da qualidade do ar, no fundo, nós estamos a falar de atacar a sustentabilidade como um todo. E referiu uma coisa interessante, que é o ar interior e o ar exterior. E falámos disso antes da gravação, até fiquei muito curiosa, porque isto é um conceito: ar interior e ar exterior, não é? Estamos a falar de ar dentro de casa, ar fora de casa. O que é que está a afetar a qualidade do nosso ar, dentro de nossa casa e fora de nossa casa, para além do setor dos transportes, obviamente muito impactante nas cidades?

Ana Paula Mesquita: A qualidade do ar tem sempre vários fatores que determinam, no fundo, em cada momento, se o ar é respirável, é bom, se está abaixo daquilo que são [00:05:00] as recomendações, por exemplo, da Organização Mundial de Saúde (OMS)…

Catarina Barreiros: Hum-hum.

Ana Paula Mesquita: …e as próprias, enfim, orientações em termos de União Europeia, porque, em cada momento, para além daquilo que são as fontes de emissão, tem também o efeito da meteorologia, tem o efeito dos obstáculos à dispersão dos gases, tem a química de… pode ocorrer na própria atmosfera e que faz com que poluentes primários originem poluentes secundários, que podem, por sua vez, ser transportados a grandes distâncias das fontes. Portanto, há uma série de, enfim, de fatores que contribuem para essa qualidade do ar. No caso da qualidade do ar interior, enfim, o problema tem a ver com o facto de termos um ambiente muito fechado. Poderá ser um ambiente pouco renovado. E, portanto, há concentração de algum tipo de poluentes. Essencialmente, fontes de combustão…

Catarina Barreiros: Hum-hum.

Ana Paula Mesquita: …que tem a ver com a cozinha, tem a ver com o aquecimento, se não for, por exemplo, elétrico. Pode ter a ver com a utilização, por exemplo, de tintas, solventes, produzem compostos orgânicos. Muitos são perigosos para a saúde. Tem a ver até com outro tipo de poluentes, não os clássicos, mas, por exemplo, acumulação de fungos, portanto, tudo isto faz com que seja importante, por exemplo, renovar o ar diariamente ao renovar o ar, como… naquela conversa que tivemos, há bocadinho, ter em conta…

Francisco Ferreira: Hum, hum.

Ana Paula Mesquita: …enfim, a perda de eficiência energética na casa. E, portanto, tentar reduzir ao máximo esse período de renovação, e entender, por exemplo, também à qualidade do ar exterior, por exemplo, em alturas… em que a qualidade do ar exterior seja bastante má…

Catarina Barreiros: Horas de ponta?

Ana Paula Mesquita: Horas de ponta, por exemplo. Evitar, por exemplo, renovar a essa hora.

Catarina Barreiros: Abrir janelas, não é?

Ana Paula Mesquita: Abrir janelas.

Francisco Ferreira: Quer dizer, aliás dizer uma coisa que me parece importante, é que: por ano, ou, pelo menos, num ano normal que não afetado…

Catarina Barreiros: Que não pandémico?

Francisco Ferreira: …não pandémico, OMS estima em 7 milhões de mortes prematuras associadas à má qualidade do ar. 4,2 milhões de pessoas morrem, portanto, por ano, devido principalmente ao ar exterior. E 2,8 ao ar interior. Estamos a falar obviamente aqui também de países muito diferentes, porque são países em desenvolvimento, onde eu utilizo a lenha, o carvão vegetal para cozinhar, por exemplo, dentro de casa. É aí que a qualidade do ar interior vai ser mais decisiva. Em países desenvolvidos, é mais a qualidade do ar exterior que acaba por ser relevante. Mas é bom nós percebermos que a má qualidade do ar é o fator ambiental que mais reduz a esperança de vida à escala mundial. Para além, obviamente, da chamada morbilidade, portanto, da doença…

Catarina Barreiros: Hum-hum.

Francisco Ferreira: …onde também o impacto é bastante significativo. Em Portugal, os dados pré-pandemia apontam para valores da ordem das 5 mil pessoas. Varia, entre 4 mil, 6 mil pessoas… depende… por ano, que morrem prematuramente, que veem a sua esperança de vida…

Catarina Barreiros: Diminuída?

Francisco Ferreira: …reduzida, à custa da má qualidade do ar.

Catarina Barreiros: Ainda é bastante significativo.Isto, ainda que uma das características essenciais que contribua para a má qualidade do ar exterior seja o transporte e a mobilidade, nota-se que seja pior em ambientes de países menos desenvolvidos do que em zonas urbanas muito densas e com muito trânsito, isto…

Ana Paula Mesquita: Zonas urbanas, sem dúvida. O problema da má qualidade do ar, felizmente ou infelizmente, é bastante democrático deste ponto de vista. Ou seja, afeta tanto países desenvolvidos como países em desenvolvimento, embora, como dizia o Francisco Ferreira, os problemas podem ser diferentes…

Catarina Barreiros: Hum-hum.

Ana Paula Mesquita: Portanto, em países, por exemplo, de África, o problema da qualidade do ar interior, portanto, a nível de aquecimento…

Catarina Barreiros: É mais relevante?

Ana Paula Mesquita: …de… é diferente, por exemplo, da Europa. Em que, de facto, o tráfego, e algumas emissões industriais também têm bastante impacto.

Francisco Ferreira: Mas na China, por exemplo, temos o pior dos dois mundos.

Catarina Barreiros: Pois.

Francisco Ferreira: Ou seja, na China, por exemplo, temos, quer as centrais a carvão, que têm ainda uma influência muito grande, quer nos gases de efeito de estufa, quer em vários poluentes que afetam a qualidade do ar, quer também a crescente mobilidade, recorrendo ao automóvel que tem obviamente também um impacto muito grande na qualidade do ar das grandes cidades, nomeadamente, pronto, aquelas que nós conhecemos. Xangai…

Catarina Barreiros: Sim, sim.

Francisco Ferreira: …Pequim, etc. E isso também noutras [00:10:00] economias em desenvolvimento, onde, com o aumento do poder de compra, as pessoas acabam por seguir, digamos assim, em muitos casos, esta trajetória de passarem do transporte coletivo, do transporte público…

Catarina Barreiros: Para o individual.

Francisco Ferreira: …para o uso do carro. E isso obviamente tem consequências. Apesar de, em vários casos, nomeadamente na China, também os veículos elétricos começarem a ganhar terreno.

Catarina Barreiros: Pronto. Era aí que eu ia chegar. Na China, não sei, posso estar a dizer um disparate, mas o que pode estar a acontecer é: por um lado, temos uma economia que está altamente dependente da produção e ainda está muito ligada ao carvão, portanto, é uma economia que, embora seja em expoente máximo a nível económico, de facto, se formos ver a sustentabilidade, quer dizer, em termos de energias renováveis, estão ainda um bocadinho atrás. Por outro lado, tem… quer dizer, começam a melhorar, certo. Por outro lado, têm uma população que é muito vasta e que está a ganhar cada vez mais poder económico, por assim dizer, não é? E nós vemos o desenvolvimento como a capacidade de ter e ter e ter, não é? Mas esquecemo-nos da parte da mobilidade, neste caso, que é muito importante, em que o ganhar esta capacidade de desenvolvimento, faz com que percamos a parte ambiental e a parte da saúde, com a qualidade do ar. E falava, há bocadinho, da…

Francisco Ferreira: E por isso é que é importante esta…

Catarina Barreiros: O bolo.

Francisco Ferreira: …lógica de olhar para o bolo dos objetivos do desenvolvimento sustentável, não é?

Catarina Barreiros: Certo.

Francisco Ferreira: Eu conseguir que não seja à custa de um determinado tipo de desenvolvimento, que eu acabe por prejudicar outras áreas fundamentais.

Catarina Barreiros: Sem dúvida. E estavam, há bocadinho… acho que os dois referiram a indústria e o papel da indústria, não só na China, como estava a falar das indústrias mais poluentes… no mundo, o que é que está a acontecer a nível industrial, e o que é que precisa de ser feito a nível da indústria? Porque nós já vemos uma grande eletrificação. E, por um lado, isso parece-me um bom sinal, não sei. Talvez…

Ana Paula Mesquita: Hum-hum. Sem dúvida.

Catarina Barreiros: Sem dúvida? OK.

Francisco Ferreira: Eu acho que tudo depende… a Ana Paula, se calhar, depois pode acrescentar…

Ana Paula Mesquita: Hum-hum.

Francisco Ferreira: …mas eu acho que tudo depende muito, muito, muito, primeiro, do tipo de indústria que nós temos, não é? E aí, nós podemos ter refinarias, podemos ter cimenteiras, podemos ter todo um conjunto de grande indústria. E tudo depende onde elas estão localizadas. E obviamente das exigências ambientais que os países impõem. A Europa, por exemplo, impõe realmente todo um conjunto de regras em termos da legislação, para eu conseguir reduzir ao máximo a poluição do ar, associada aos diferentes setores industriais. E, depois, no setor da produção de eletricidade, tudo depende da percentagem que eu vou ter de fontes renováveis. E, nomeadamente, do uso de determinados combustíveis, como o carvão principalmente…

Catarina Barreiros: Hum-hum.

Francisco Ferreira: …entre o carvão, o fuel, o gás natural. O carvão, pela sua natureza, nomeadamente por ser um sólido, por ser um mecanismo de produção de eletricidade a partir do carvão, é o mais poluente…

Catarina Barreiros: Certo.

Francisco Ferreira: …quer em termos de CO2, quer dos outros poluentes. Por exemplo, o enxofre, a presença de enxofre, a emissão de partículas… mas há uma coisa que também é muito simples, que é: nós temos que perceber que… e eu diria, apesar de nós podermos falar de alguns setores específicos, tipo a agricultura, a indústria, etc., o grande drama que nós temos, quer na poluição do ar, quer na emissão de gases de efeito de estufa, é a queima de combustíveis fósseis. Ou a queima. O próprio processo de queima...

Catarina Barreiros: Hum-hum. Certo.

Francisco Ferreira: …porque é aí que eu tenho …

Catarina Barreiros: A extração…

Francisco Ferreira: …eu quando queimo qualquer um destes combustíveis, eu… isso vai depender daquilo que eu tenho no combustível. Por exemplo, se tenho um combustível muito mau, tipo… com bastante enxofre, ou com muitas partículas a serem geradas, vai ser um problema em termos de poluição do ar. Obviamente, o carbono é fóssil, vou agravar o aquecimento global. E, depois, ainda tenho um outro problema, que é: como a reação é feita a temperaturas muito elevadas, eu vou combinar o azoto que tenho no ar, 78% do nosso ar é azoto, que se vai combinar com o oxigénio. E, portanto, eu vou ter sempre emissões de óxidos de azoto. E é isso que acontece com os automóveis, a combustão. É que… e acontece a mesma coisa na indústria, portanto, sempre que eu tenho um processo de combustão, eu vou ter estas emissões destes óxidos de azoto, que são, atualmente, nas cidades, o principal… nomeadamente em Lisboa, no Porto, são estes óxidos de azoto, em particular o chamado dióxido de azoto, que é o poluente mais problemático em termos de concentrações elevadas.

Ana Paula Mesquita: E, já agora, acho que podíamos acrescentar também que… em relação aos óxidos de azoto, que normalmente, os processos de combustão emitem sobretudo monóxido de azoto, e depois se transforma em NO2 (dióxido de nitrogénio), mas é um poluente bastante particular, porque tem a capacidade de gerar imensos efeitos. Ou seja, é um poluente que, por um lado, tem efeitos sobre a saúde, crónicos. Tanto dependendo de uma exposição de longa duração, ou em situações [00:15:00] episódicas… já aconteceu no passado efeitos de… agudos. Mas tem também o poder de, em contacto com a água, se tornar um ácido. E ter consequências a nível, por exemplo, de vegetação. E todos nos recordamos do que foi o problema das chuvas ácidas, nos países da Europa central, como a Alemanha. E tem a capacidade de produzir um fenómeno que se chama eutrofização. No fundo, é o alimentar em excesso lagos, como se fosse um fertilizante natural e, portanto, levar ao desenvolvimento de algas, que, quando morrem, acabam por consumir toda a água do rio. E, portanto, levar à morte do próprio rio. Tem problemas… consegue, na atmosfera, dar origem a outro poluente muito prejudicial para a saúde, que é o ozono. Formado, composto por orgânicos voláteis e, portanto, uma sopa química, digamos, na atmosfera, que dá origem a ozono. Consegue ainda, por exemplo, ter problemas a nível, por exemplo, corrosão de edifícios, de visibilidade, de quando vamos, por exemplo, a uma cidade como Paris, queremos ver os monumentos, e o que vemos é uma neblina ao fundo…

Catarina Barreiros: A pairar…

Ana Paula Mesquita: …com a paisagem…

Catarina Barreiros: …assim baixinho, não é?

Ana Paula Mesquita: Exato. Portanto, o NOX tem capacidade de produzir tudo isto. Portanto, qualquer medida que consiga, por exemplo, baixar emissões de NOX, tem todos estes efeitos benéficos.

Francisco Ferreira: E a Ana Paula está a dizer uma coisa que é fundamental. É que nós, muitas das vezes, concentramo-nos apenas na saúde, mas o que é facto é que, quando falamos de poluição do ar, e quando falamos de má qualidade do ar, falamos da saúde…

Catarina Barreiros: Ecossistema?

Francisco Ferreira: …humana e dos ecossistemas.

Catarina Barreiros: Certo.

Francisco Ferreira: Da vegetação também, às vezes, em particular, porque a vegetação sofre muito, quer com o ozono, aqui é o chamado ozono mau porque nós, felizmente, temos… a substância é a mesma, mas temos o ozono bom, que nos protege dos raios ultravioletas, mas este é o ozono mau, que nós podemos respirar principalmente com temperaturas elevadas, com bastante radiação solar durante o verão. Mas realmente este é um dos poluentes mais problemáticos por causa destas consequências todas.

Catarina Barreiros: A pessoa até custa a respirar, depois de ter esta informação.

Francisco Ferreira: Não, isto é basicamente um curso em poluição do ar, gratuito para quem vai ouvir o podcast.

Catarina Barreiros: De nada. Não, mas é, de facto, a pessoa, quando tem esta informação, fica… nós ouvimos falar muito dos combustíveis fósseis e extração como sendo muito má, e pensamos no plástico e nos oceanos, mas, na realidade, estamos a falar… certo, é mau a extração dos combustíveis fósseis está a prejudicar obviamente em larga escala, mas, a partir do momento em que forma compostos químicos no ar, que nós respiramos. Químicos, compostos naturais…

Francisco Ferreira: Hum, hum.

Catarina Barreiros: …mas químicos no ar que nós respiramos e que nos faz morrer mais cedo…

Ana Paula Mesquita: Exato. E que têm a capacidade de viajar a distâncias bastante…

Catarina Barreiros: À distância…

Ana Paula Mesquita: …grandes.

Francisco Ferreira: Sim, sim.

Catarina Barreiros: É ar, não é?

Ana Paula Mesquita: Por exemplo, o NOX é um poluente muito reativo. Ele, sei lá, numas horas, ou num dia, desaparece. Está sempre a ser emitido, não é? Mas desaparece. O problema é que depois forma estes outros compostos, como, não só o ozono, mas partículas finas, que são…

Francisco Ferreira: Hum-hum.

Ana Paula Mesquita: …um poluente também perigosíssimo, porque penetra pelas vias respiratórias, e consegue, através dos brônquios, dos alvéolos pulmonares, chegar ao sangue, provocar ataques cardíacos e cancro. E uma série de outros efeitos.

Francisco Ferreira: E só dizer aqui uma coisa, já agora, para não nos sentirmos assim tão culpados, que, apesar de nós termos aqui um papel decisivo, nomeadamente nas cidades, também temos direito a poluição natural. Ou seja, por exemplo, aqui na zona da Península Ibérica, nós temos poeiras que vem do Saara e do Sahel, portanto, dos desertos de Norte de África, que também nos afetam, que têm também prejuízo para a nossa saúde. Mas, no entanto, não podemos fazer nada, porque…

Catarina Barreiros: Certo.

Francisco Ferreira: …é um mecanismo natural de…

Catarina Barreiros: Claro.

Francisco Ferreira: …transporte destas poeiras, mas que não deixam de afetar…

Catarina Barreiros: A saúde.

Francisco Ferreira: …a saúde não temos direito a vulcões, mas temos direito ao Saara.

Catarina Barreiros: Sim, lá está, há o limite do que nós podemos controlar e do que não podemos controlar, não é? Temos de saber viver com o que não dá para controlar.

Ana Paula Mesquita: Sim.

Catarina Barreiros: …e melhorar o que dá.

Ana Paula Mesquita: Sim. É um problema complicado. Não é como a água, por exemplo, que eu consigo… tem uma empresa que capta água, trata a água, canaliza a água, e chega às nossas torneiras, que lhe garantem…

Catarina Barreiros: Limpa.

Ana Paula Mesquita: …uma qualidade necessária para eu poder beber descansada. O ar… não temos uma empresa de abastecimento de ar, não é? A não ser andar com uma máscara.

Catarina Barreiros: Será que vamos vir a ter? Mas certo.

Ana Paula Mesquita: E, por isso, toda a gestão de qualidade do ar, principalmente por, digamos, ser tantos fatores a contribuir para… diariamente tudo esteja a mudar, não é? Entre o bom e o mau, e o…

Catarina Barreiros: Certo.

Ana Paula Mesquita: É…

Catarina Barreiros: E é altamente…

Ana Paula Mesquita: …o que complica.

Catarina Barreiros: …volátil. É uma… isto muda todos os…

Francisco Ferreira: Não. E, por isso, é que é importante, por exemplo, a parte toda da informação, não é? Também é importante falar disso. As pessoas podem… há um sítio na internet, que é gerido pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA), que é o QualAR, tem uma aplicação para o telemóvel, mas a informação também está na dita página [00:20:00]

Catarina Barreiros: Internet… no site.

Francisco Ferreira: …da QualAR, e a pessoa pode receber informação. Há cidades que também, como Lisboa e outras que estão a instalar sensores, em que nós também podemos perceber qual é a qualidade do ar. E tudo isto é, tem-se procurado… Podia-se pensar: “Bem, então, quer dizer, para eu saber se o meu ar é bom ou não, tenho que fazer, pelo menos, 20 horas de literacia sobre qualidade do ar”. Não, não é verdade...

Catarina Barreiros: Certo.

Francisco Ferreira: …porque isso é tudo simplificado através de um índice.

Catarina Barreiros: É ouvir este episódio…

Francisco Ferreira: E, portanto…

Catarina Barreiros: …e ver a aplicação. Não, estou a brincar.

Francisco Ferreira: Não. Mas aí a pessoa, portanto, já inspirada pelo episódio, se for a ver, depois percebe: “Afinal, isto é muito mais simples”, porque realmente…

Catarina Barreiros: Certo. Há indicadores, não é?

Francisco Ferreira: …o índice diz se é muito bom…

Ana Paula Mesquita: Mau…

Francisco Ferreira: …bom…

Ana Paula Mesquita: …ou fraco.

Francisco Ferreira: …médio…

Ana Paula Mesquita: Hum-hum.

Francisco Ferreira: … fraco…

Ana Paula Mesquita: São cinco, degraus acho eu …

Francisco Ferreira: …ou mau.

Ana Paula Mesquita: …acho eu. Hum-hum.

Francisco Ferreira: Se for mau, aí, pronto…

Francisco Ferreira: …aí, para de respirar…

Ana Paula Mesquita: Não dá…

Francisco Ferreira: …e, depois, no outro dia, quando estiver bom, volta.

Ana Paula Mesquita: Exato. E é importante esta aplicação, eu acho que pode ser realmente útil, por exemplo, para quem tem filhos pequeninos ou pessoas idosas na…

Catarina Barreiros: Até para escolher destinos, não é? Se escolher…

Ana Paula Mesquita: …ou pessoas com problemas cardíacos, problemas respiratórios…

Catarina Barreiros: Hum-hum.

Ana Paula Mesquita: …antes de ir passear, correr um bocadinho…

Francisco Ferreira: Hum-hum.

Ana Paula Mesquita: …consulta a página, e vê: “Hoje, está um bom dia para…

Catarina Barreiros: Isso…

Francisco Ferreira: E nomeadamente…

Francisco Ferreira: …durante o verão, por causa do ozono…

Ana Paula Mesquita: Do ozono, exato.

Francisco Ferreira: …que a Ana Paula falou, é fundamental. Porque, se eu tiver um dia muito quente, e se estiver na periferia de uma cidade, portanto, onde eu já começo a ter o caldeirão de poluentes a transformar-se nos chamados poluentes secundários, não é?

Catarina Barreiros: Hum-hum.

Francisco Ferreira: É muito importante eu estar atento a essa informação, porque realmente eu não devo fazer exercício físico, por exemplo, numa altura em que esteja com concentrações elevadas de ozono. Se for até um determinado nível, desde que eu não faça parte dos grupos sensíveis, e aqui estamos a falar das crianças, dos idosos e das pessoas com problemas respiratórios…

Catarina Barreiros: Respiratórios, não é?

Francisco Ferreira: …e cardiorrespiratórios. Se for então acima ainda, num nível mais elevado, aí é para todos, não é?

Ana Paula Mesquita: Hum-hum.

Catarina Barreiros: OK.

Francisco Ferreira: Mas, portanto, é fundamental esta atenção às questões da qualidade do ar.

Ana Paula Mesquita: A própria aplicação, eu creio que dá informação sobre isso…

Francisco Ferreira: Sim.

Ana Paula Mesquita: …precisamente, se pertence à classe de pessoas mais sensíveis, hoje não deve fazer, sei lá…

Catarina Barreiros: Certo.

Ana Paula Mesquita: …não…

Catarina Barreiros: Isso parece-me importante para atletas, para famílias, para toda a gente…

Ana Paula Mesquita: Exato, sim, sim, sim.

Catarina Barreiros: …não é? De… “Será que… vou ali ao parque com a minha filha, se calhar vou ver quais dos parques está aqui à minha volta está…

Francisco Ferreira: Bem, o pormenor não é assim tão grande, mas…

Catarina Barreiros: Bom, mas, se calhar, se eu decidir ir de férias… passar um fim-de-semana a algum sítio, e houver um sítio claramente com uma qualidade do ar…

Francisco Ferreira: Eu acho que são…

Catarina Barreiros: …inferior.

Francisco Ferreira: Sim, mas, quer dizer, acima de tudo, se a pessoa estiver atenta já sabe que…

Catarina Barreiros: Sim…

Francisco Ferreira: Por exemplo, aquilo…

Catarina Barreiros: …é informação, sim.

Francisco Ferreira: …que nós estávamos a falar. Não fazer um exercício físico intenso…

Catarina Barreiros: Hum-hum.

Francisco Ferreira: …cá fora, num dia em que eu esteja com concentrações muito elevadas de ozono, por exemplo…

Ana Paula Mesquita: Hum, hum.

Francisco Ferreira: …isso é…

Ana Paula Mesquita: É…

Francisco Ferreira: …é básico. E não só. E, além disso, também, conforme a dessensibilização. Se eu seguir a informação, eu vou-me aperceber que há determinadas alturas em que o ar está mau, e porque é que ele está mau. Porque se for a poluição vinda do Saara, eu aí não posso fazer nada, mas, habitualmente, os casos mais graves são, por exemplo, em determinadas zonas, no inverno, com determinadas condições meteorológicas e com o uso de lareiras, em que eu tenho elevadas concentrações de partículas. Ou, por exemplo, no centro das cidades também, com determinadas condições meteorológicas, pouco vento, por exemplo, frio. Em que eu tenho aquilo que se chama uma inversão térmica. Portanto, tem o tal capacete, não é?E, realmente, é de evitar eu, não apenas eu respirar, mas, já agora, eu perceber o que é que devo evitar para não contribuir mais para essa poluição.

Catarina Barreiros: O caso das lareiras é paradigmático.

Ana Paula Mesquita: Eu estava a recordar-me, por exemplo, este tipo de situações de grande calma atmosférica, em que a atmosfera não tem capacidade de mistura de poluentes com o resto do ar, de forma a dispersá-lo. Estava-me a lembrar, por exemplo, daquele episódio, que não é poluição típica, mas não deixa de ser um problema de poluição atmosférica, que houve com a legionella na zona da Póvoa de Santa Iria tal como houve acumulação de legionella, possivelmente nessa altura, houve acumulação de todos os outros poluentes. Ali, o problema, de facto, foi a legionella. Mas é o típico… tivemos cerca, não sei se cinco dias, ou mais, atmosfera muito, muito estável, e, pronto, e deu origem a esse episódio horrível, com mortes e, portanto, muita gente hospitalizada.

Catarina Barreiros: Bom, estamos num ano particularmente interessante para falar de qualidade do ar, não é? E de doenças respiratórias. Não. Faz todo o sentido. Agora, a questão é: nós estamos aqui quase com esforço em respirar. Pelo menos, eu estou aqui a pensar, a rever as minhas horas do dia. Mas o que é que pode ser feito? O que é que os governos estão a fazer? Há bocadinho, falava-se de legislação, de a Europa estar com legislação sobre este assunto. O que é que está a ser feito, neste momento? Para ajudar aqui a tranquilizar um bocadinho as pessoas que estão a ouvir-nos.

Ana Paula Mesquita: Eu acho que, a nível europeu, muita coisa tem sido feita. Acho que já falámos de algumas coisas. Basicamente, temos uma legislação europeia que se apoia em três pilares: um tem a ver com a qualidade do ar, portanto, definir o que é que é qualidade do ar [00:25:00], haver critérios que mudem toda a Europa, sobre métodos de monitorização, porque não sabemos se temos boa ou má qualidade do ar se não medirmos, e medirmos de acordo com métodos fiáveis e temos valores-limite. Portanto, temos, para cada poluente, temos limites de curto prazo, por exemplo, hora, ou de longo-prazo, em função do tipo de, lá está, de situações episódicas ou crónicas. Para ecossistemas, também. Portanto, temos, por um lado, essas diretivas de qualidade do ar. Depois, temos… porque houve um problema, enfim, gravíssimo, como falámos, de chuvas ácidas e… a certa altura, percebeu-se que há um problema que é poluição transfronteiras, mas não há uma caixinha onde os poluentes não saem…

Catarina Barreiros: Certo.

Ana Paula Mesquita: …e, portanto, países como, por exemplo, a Bélgica…

Catarina Barreiros: Não há fronteiras, sim.

Ana Paula Mesquita: …que têm… a Alemanha, têm França, têm a Holanda ao lado, sofrem, não só da sua poluição, como…

Catarina Barreiros: A dos vizinhos.

Ana Paula Mesquita: …a dos vizinhos. E, portanto, a certa altura, houve, enfim, uma convenção entre países, e acordou-se limitar as emissões de cada país, para vários poluentes. E, portanto, há esse compromisso também nacional. E, depois, há valores-limite de emissão para cada setor, portanto, para cada tipo de fonte…

Catarina Barreiros: Certo.

Ana Paula Mesquita: …por exemplo…

Catarina Barreiros: Para cada indústria.

Ana Paula Mesquita: …para cada tipo de indústria. Portanto, temos evoluído de uma forma muito positiva. Mesmo assim, continua a haver problemas. E, portanto, a Comissão Europeia, no final de 2009, foi aprovado o Pacto Ecológico…

Francisco Ferreira: Ecológico Europeu.

Ana Paula Mesquita: …Europeu, Green Deal, e prevê, por exemplo, um roteiro para…

Francisco Ferreira: É o chamado Plano de Ação, Plano de Ação para a Poluição zero.

Ana Paula Mesquita: …poluição zero.

Francisco Ferreira: Eu queria acrescentar que aquilo que a Ana Paula disse, e muito bem, na parte da indústria também se aplica aos automóveis.

Ana Paula Mesquita: Aos automóveis, exatamente.

Francisco Ferreira: Portanto, nós, por exemplo, ao longo do tempo, tivemos exigências cada vez maiores naquilo que são as emissões dos automóveis, as chamadas Normas Euro. Nós, atualmente, estamos na norma 6, e já tem assim umas variações, porque há a 6, a 6D, neste momento, é a 6D e fala-se de uma norma Euro 7, isto tudo para motores a combustão. E, portanto, antes de 92, nós não tínhamos o catalisador que resolveu uma série de poluentes também. Agora, claro que… ah, e mais ainda, ainda no que diz respeito à indústria, há um aspeto que me parece fundamental, que é: desde 1996 que a Europa resolveu fazer isto de forma integrada. Ou seja, é o chamado prevenção e controlo integrados da poluição, porque, dantes, eu podia reduzir a poluição do ar, mas, depois, ia ficar ali com poeiras, por exemplo, e essas poeiras iam para um aterro. Ou seja, eu transferia poluição de um lado para o outro…

Catarina Barreiros: Para o aterro, certo.

Francisco Ferreira: …não é? E, portanto, desde essa altura, que, setor a setor, eu sou obrigado a usar as melhores tecnologias disponíveis, quer adaptando as indústrias mais antigas, quer nas novas. E de forma integrada. Portanto, eu não posso estar aqui a resolver um problema sem resolver o outro. E, obviamente, nós, agora, com a questão das alterações climáticas, procuramos também olhar, quer para as questões da poluição do ar, dos poluentes mais tradicionais, quer também para a questão da redução dos gases com efeito de estufa.

Catarina Barreiros: OK.

Francisco Ferreira: Mas, como eu disse, e repito, quer dizer, só a questão da queima dos combustíveis fósseis acaba por ser…

Catarina Barreiros: Um problema em si?

Francisco Ferreira: …uma oportunidade enorme, se eu conseguir, por exemplo, transferir muita dessa poluição para o uso de eletricidade de fonte renovável, seja, por exemplo, nos veículos, seja em muitas indústrias, onde essa eletrificação também já é possível.

Ana Paula Mesquita: Eu acho que… acrescento o setor da energia, e da eletricidade, em concreto, teve uma evolução espantosa nos últimos anos. Porque, se pensarmos nos anos 60, começámos com fuelóleo, até ainda com a Tapada do Outeiro, central a carvão. Mas, sobretudo, Carregado, Setúbal, portanto, centrais a fuelóleo tinham, enfim, muito poucas medidas. Tinham precipitadores eletrostáticos, para partículas, tinham, enfim, ali alguma redução na limitação, no teor de enxofre. Mas eram centrais bastante poluentes. Depois, veio o carvão, com a Central de Sines, a Central do Pego, também só com precipitadores inicialmente. E, portanto, tivemos uma evolução sempre crescente, até que, por volta dos anos 90, o setor energético era um dos setores com mais peso em termos de emissões no país. A partir daí, foi exatamente o contrário. Portanto, veio…

Ana Paula Mesquita: …o gás natural. As centrais de fuelóleo passaram, enfim, a funcionar muito pouco, portanto, em termos de mercado, deixaram de ser e acabaram…

Francisco Ferreira: E terminaram. Setúbal terminou, no final da primeira década deste século?

Ana Paula Mesquita: Sim. Sim. 2010. Entre 2010 e 2013, portanto, fecharam [00:30:00] todas as centrais a fuelóleo. O carvão, dentro daquele espírito da prevenção e controlo integrado…

Francisco Ferreira: Sim, é este ano…

Ana Paula Mesquita: … e com diretivas até das grandes instalações de combustão começou a ser exigido outro tipo de medidas de redução de poluentes no próprio carvão. Portanto, passámos a ter que instalar dessulfuração para retirar o enxofre. Inicialmente, tínhamos medidas primárias …

Catarina Barreiros: Portanto, para retirar um subproduto para retirar esses produtos…

Ana Paula Mesquita: Sim, exato. No fundo, é um lavadouro, um chuveiro, digamos…

Catarina Barreiros: Certo.

Ana Paula Mesquita: …com leite de cal que consegue captar gases ácidos como dióxido de enxofre e também outros, fluorídrico, clorídrico, enfim, é tudo retido dessa forma. O NOX tem aquela particularidade… falávamos, há pouco, que não é só o azoto do próprio combustível, mas é o azoto do ar. Portanto, é muito ingrato desse ponto de vista porque é o próprio azoto do ar, àquela temperatura de combustão, forma aqueles óxidos de azoto. Portanto, primeiro, havia medidas primárias. Portanto, tem a ver com, enfim, regular a queima de… com, no fundo, questão de geometria, de adição de ar, de forma a conseguir reduzir… ou a temperatura de chama, ou… portanto, controlar a emissão e, portanto, são medidas primárias, não é? Portanto, é evitar a formação de óxidos de azoto, mas, depois, mais tarde, agravou-se ainda mais, portanto, em termos de diretivas comunitárias, a exigência. E acabou por ter que se instalar a desnitrificação também na Central de Sines.

Francisco Ferreira: E, depois, veio o CO2, não é?

Ana Paula Mesquita: Depois, veio o CO2…

Francisco Ferreira: Das alterações climáticas…

Ana Paula Mesquita: A Central de Sines fechou.

Francisco Ferreira: … a sair muito caro…

Ana Paula Mesquita: Exato.

Francisco Ferreira: …e a termos mesmo que sair do carvão…

Ana Paula Mesquita: O que é de baixar também, não é?

Francisco Ferreira: E, portanto, Sines fechou em janeiro. Pego prevê-se até novembro. E…

Ana Paula Mesquita: Portanto, é uma evolução de facto…

Francisco Ferreira: …e isto tem que ser substituído algures, um bocado pelo gás natural, por agora, por agora, que ainda é um combustível fóssil, mas, acima de tudo, por renováveis. E, portanto, há aqui uma mudança enorme, tanto que, como a Ana Paula dizia, nós, por exemplo, quando olhamos para a poluição em termos de gases de efeito de estufa, era sempre o setor elétrico que estava ali a par do setor dos transportes e já este ano, o setor dos transportes ganha…

Catarina Barreiros: Ultrapassou…

Francisco Ferreira: …em relação ao setor elétrico. Portanto…

Catarina Barreiros: OK. Estamos a falar a nível mundial?

Ana Paula Mesquita: Aliás, já nos últimos anos, eu creio que…

Francisco Ferreira: Já estava…

Ana Paula Mesquita: …os transportes já estavam…

Francisco Ferreira: …ali os transportes, já estava um bocadinho acima…

Ana Paula Mesquita: …com grande peso.

Francisco Ferreira: …e, portanto…

Catarina Barreiros: A nível mundial? Estamos a falar a nível mundial?

Francisco Ferreira: Não. Estamos a falar aqui a nível…

Catarina Barreiros: Nacional.

Francisco Ferreira: …de Portugal.

Catarina Barreiros: Nacional, OK.

Francisco Ferreira: A nível de…

Ana Paula Mesquita: Sim.

Francisco Ferreira: …a nível de Portugal.

Ana Paula Mesquita: Mas mesmo a…

Catarina Barreiros: Mesmo a nível mundial, continua a ser…

Francisco Ferreira: Mesmo a nível mundial…

Catarina Barreiros: …o setor elétrico.

Francisco Ferreira: …também…

Catarina Barreiros: Já começa a apanhar?

Francisco Ferreira: Depende muito do país, não é? Há países onde eu ainda tenho um peso muito grande da produção de eletricidade, e ainda há investimentos no carvão. Que são investimentos complicados, não é? Porque nós temos que assegurar, de acordo, aliás, em linha com o Acordo de Paris, de 2015, com o objetivo 13, nós temos que assegurar que a nossa temperatura não sobe mais do que 1.5 graus, em relação à era pré-industrial. E já estamos muito perto.

Catarina Barreiros: Vamos a tempo? Vamos a tempo é a pergunta.

Francisco Ferreira: Nós estamos muito perto. Supostamente, em termos científicos, estamos a tempo. Em termos políticos, eu acho que é mais complicado.

Catarina Barreiros: Essa é a grande questão, não é? Nós estamos a falar sempre de alterações que têm sido feitas progressivamente no setor… na energia exponencialmente, nos últimos anos. Acho que, em Portugal, temos assistido a uma…

Ana Paula Mesquita: Sim, foi o setor que mais contribuiu para a redução com… e os transportes também…

Francisco Ferreira: Sim, sim.

Catarina Barreiros: E que se estima continuar a ser um dos mais importantes, não é? Mas, depois, há a parte da decisão política, não é? E…

Francisco Ferreira: Quer dizer, ainda há pouco tempo, apelou para que, em linha, aliás, com o que a Agência Internacional de Energia também recomendou, que deixem de ser vendidos, por exemplo, veículos com motor a combustão…

Catarina Barreiros: Alguns países já…

Francisco Ferreira: …a partir de 2035…

Catarina Barreiros: …estão a… sim, sim.

Francisco Ferreira: Eu acho que se nós conseguirmos antecipar essa data ainda melhor. Para 30 ou… mas também é fundamental que haja aqui uma maior competição, digamos…

Catarina Barreiros: Hum-hum, dos preços… hum-hum.

Francisco Ferreira: …ou competitividade da parte dos veículos elétricos, da possibilidade de o carregar, também de algum desenvolvimento tecnológico. E também é importante nós termos a noção que tudo isto são os melhores esforços para nós, numa lógica de sustentabilidade, reduzirmos o impacto. Porque, não se tenha a ilusão de que os veículos elétricos não têm impacto no ambiente, claro que têm! Quer dizer, a questão das baterias, a questão de alguma eletricidade não ser também renovada…

Catarina Barreiros: Hum, hum.

Francisco Ferreira: …mesmo os painéis solares implicam…

Catarina Barreiros: Claro…

Francisco Ferreira: …materiais…

Catarina Barreiros: Sim, claro.

Francisco Ferreira: …e produção. Portanto, aqui a questão é que, quando eu comparo veículo elétrico, no seu ciclo de vida, com um veículo a motor de combustão, não tem comparação em termos das emissões de um e de outro. E, portanto, o elétrico é, principalmente se for…

Catarina Barreiros: Num país como o nosso…

Francisco Ferreira: …utilizado…

Catarina Barreiros: …com mais de 50 por cento…

Francisco Ferreira: …num país como nós, com mais…

Catarina Barreiros: …de energia renovável.

Francisco Ferreira: …energia renovável, portanto, aí, não se compara com o veículo a combustão. Mas é preciso… aqui realmente há uma análise crítica, e cada vez uma maior exigência.

Catarina Barreiros: Existe, inclusivamente, um site de transporte europeu, que faz mesmo [00:35:00] o comparativo de diferentes marcas e modelos de veículos com um veículo elétrico. E mostram a partir de quantos quilómetros é que começa a compensar ambientalmente um veículo elétrico em cada país. Isso é…

Francisco Ferreira: OK. Eu, para Portugal, eu recomendaria, aliás, um site muito óbvio, que se chama MobZero.pt…

Catarina Barreiros: Certo.

Francisco Ferreira: …que é um site da Zero, que, aliás, teve uma parceria com várias contribuições, nomeadamente da EDP, portanto, é um site onde as pessoas podem fazer uma simulação dos custos totais. Ou seja, não apenas na aquisição, mas também naquilo que é…

Catarina Barreiros: Na amortização dos investimentos…

Francisco Ferreira: Exatamente.

Catarina Barreiros: Manutenção.

Francisco Ferreira: …e ainda a manutenção e a utilização, com os custos de energia, para se ter essa comparação de forma mais direta.

Catarina Barreiros: OK.

Ana Paula Mesquita: E é importante, nessa comparação, pensar-se não só na redução, nas emissões de CO2, mas também na redução de outros poluentes…

Francisco Ferreira: É verdade.

Ana Paula Mesquita: …e no benefício que significa para a qualidade do ar.

Francisco Ferreira: E no site MobZero, não apenas nós olhamos para esse valor no que respeita ao CO2, mas também para o NOX, para o tão fantástico… óxidos de… para os óxidos de azoto que aqui nos ocupou ainda um bocado.

Catarina Barreiros: Podem crer que sim. E, agora, estou aqui a pensar, se nós estamos a falar de um setor que é altamente carbonizado ainda, que é da mobilidade, do transporte, acredito que a aviação internacional tenha aqui um peso grande. E já existem algumas alternativas à vista, mas nada implementado hoje, não é? Aliás, nós vimos diminuições da concentração de dióxido de azoto, na China, e em alguns países, durante a pandemia, também por causa da aviação internacional parada. Pelo menos, é o que a Bloomberg achava, na altura. E a pergunta é: nós podemos fazer o esforço individual, e a mobilidade obviamente rodoviária continua a ter muito, muito, muito impacto. Até que ponto é que continua a fazer sentido nós apostarmos em mobilidade individual, ainda que eletrificada, antes de pensar, por exemplo, numa mobilidade coletiva de longas distâncias, com, por exemplo, um hidrogénio, a verde, obviamente. Não um hidrogénio de fontes… de combustíveis fósseis. Porque nós podemos ter, daqui a uns anos autocarros com eletrificações e hidrogénio.

Ana Paula Mesquita: É importante também acrescentar que a queima de hidrogénio também produz óxidos de azoto.

Francisco Ferreira: Hum, hum.

Catarina Barreiros: Ah.

Ana Paula Mesquita: É um… se for combustão depois de hidrogénio, tem também…

Francisco Ferreira: Por isso, o ideal do uso do hidrogénio é como célula de combustível…

Catarina Barreiros: Certo. Fuel cell.

Francisco Ferreira: …não tanto na sua combustão…

Catarina Barreiros: Claro, claro.

Francisco Ferreira: Agora, vamos lá ver, para… há aqui realmente, portanto, em relação ao setor dos transportes eu diria que há aqui algumas perspetivas boas. No caso dos automóveis, dos autocarros, dos camiões, por aí… claramente o uso de baterias e também do hidrogénio, principalmente para os veículos pesados é um bocado o caminho a seguir.

Catarina Barreiros: Sim, sim. Estava a falar da longa distância mesmo, sim.

Francisco Ferreira: No que diz respeito à navegação e à aviação, é para aí que nós vamos ter que orientar, se calhar, o uso do hidrogénio, ou até mais da amónia. Porque... a amónia a partir de hidrogénio verde.

Catarina Barreiros: OK. Desconheço.

Francisco Ferreira: Porque, aí, é uma das possibilidades grandes, principalmente para a navegação. E, depois, também temos, penso eu, que… pensar que todas estas medidas nos exigem às vezes ir um bocadinho mais a montante. E, portanto, a questão é… e a pandemia também nos obriga um pouco a isso, neste caso, felizmente, que é: “Será que preciso de ir a Bruxelas três vezes por mês ou quatro vezes por mês para ter reuniões?”.

Catarina Barreiros: Pode ser no Zoom, claro.

Francisco Ferreira: Se calhar, é bom eu ir a Bruxelas, e é positivo eu ir a Bruxelas. Mas posso ir a Bruxelas, se calhar, uma vez por ano ou duas vezes por ano. De resto, faço uma reunião por…

Catarina Barreiros: Teleconferência?

Francisco Ferreira: …por videoconferência, não é? E, depois, também posso pensar: “Bem. E, além disso, será que eu tenho aqui uma equidade de custos?”. É que a aviação, por exemplo, não paga impostos nenhuns, enquanto que nós, no transporte rodoviário ou ferroviário, pagamos. E, depois, ainda no transporte ferroviário. Quer dizer, será que eu posso ter aqui uma melhor oferta para ir, pelo menos, a Madrid ou ao Porto ou num comboio noturno para Paris?

Catarina Barreiros: Distâncias médias, não é?

Francisco Ferreira: Pronto.

Catarina Barreiros: Aquelas… hum, hum.

Francisco Ferreira: Portanto, há aqui realmente todo um conjunto de equações que…

Catarina Barreiros: Que têm…

Francisco Ferreira: …devem ser resolvidas para eu reduzir os impactos em termos de alterações climáticas e em termos de qualidade do ar.

Catarina Barreiros: Portanto, nós estamos a falar de uma solução generalizada. Não é agora, de repente: “OK, não pode ser através dos carros, não pode ser através da ferrovia, não pode ser…”. Temos de agir em todas as frentes, não é?

Francisco Ferreira: Exato. E uma das grandes ações é realmente, às vezes, acalmarmo-nos um pouco naquilo que são as nossas necessidades de mobilidade.

Catarina Barreiros: De consumo?

Francisco Ferreira: E de consumo. Sem dúvida alguma.

Catarina Barreiros: Portanto, a nível individual, se calhar, se quisermos, para fechar, com uma ação individual que podemos fazer, para ajudar a melhorar a qualidade do ar? Se calhar, se cada um destacasse uma, podíamos acabar aqui uma nota mais positiva, para toda a gente respirar melhor [00:40:00].

Francisco Ferreira: Ah, eu deixo a Ana Paula dizer primeiro, assim…

Ana Paula Mesquita: Não. Essa, de facto, é a mais importante, não é? Pensar duas vezes antes de viajar à custa de um processo qualquer de combustão, não é? Se eu puder ir de bicicleta, ou puder ir a pé, então, devo optar por esse meio. Eu se for mais longe, se eu puder optar por um transporte público, pois, devo fazê-lo. Não podendo fazer, se tiver a possibilidade de ter um carro elétrico tanto melhor, não é? Mas, sim, o transporte é, sem dúvida, o ponto…

Catarina Barreiros: O foco?

Ana Paula Mesquita: …portanto, a lição mais fácil…

Francisco Ferreira: Pois, eu, aí, concordo com a Paula…

Ana Paula Mesquita: …agora…

Francisco Ferreira: Eu acho que também é o mais importante.

Catarina Barreiros: Então…

Francisco Ferreira: (Isto é), com um passe, tendo nós um passe, por exemplo, para as áreas metropolitanas, de 40 euros quer dizer, é só fazer contas. O que eu acho é que nós temos de começar a fazer umas contas, porque, se calhar, realmente, entre usar a mobilidade suave, ou seja, andar a pé, de trotinete, bicicleta, e o usar o transporte coletivo, e usar o carro apenas para aquelas partes que eu preciso mesmo de usar o carro, já isso era uma grande ajuda.

Catarina Barreiros: OK. Então, se calhar, dado que concordam os dois neste tema, peço uma dica para melhorar a qualidade do ar interior. Para ser diferente do…

Francisco Ferreira: Não, eu acho que, em termos de qualidade do ar interior, eu acho que é fundamental nós, durante a manhã, que são habitualmente as alturas menos poluídas, pelo menos se não tivermos no inverno eu acho… mas também para não estragarmos a eficiência energética das casas, é: abrimos as janelas todas ao mesmo tempo, assim durante um minuto. Não é preciso mais, fazer ali um bocadinho de corrente de ar, voltar a fechar, se calhar, correr as persianas, agora, no verão, ou no inverno também. Quer dizer…

Catarina Barreiros: As cortinas para conforto térmico?

Francisco Ferreira: Para garantir que o CO2, que se acumulou durante a noite, se vai embora, que realmente eu consigo ter dentro de casa… não nos esqueçamos que nós passamos 95% do nosso tempo em espaços fechados. Pode não ser na nossa casa.

Catarina Barreiros: Agora, é.

Francisco Ferreira: Se calhar, agora, com a pandemia, é. Mas, portanto, esse, sem dúvida, era um… é uma atenção também fundamental, não nos focarmos apenas no ar exterior, no ar interior termos essa possibilidade.

Catarina Barreiros: Boa!

Ana Paula Mesquita: Eu posso sugerir outra dica. Que, normalmente, sigo sempre, que é: quando tiver que pintar qualquer coisa, eu vou sempre procurar uma tinta com baixo teor de orgânicos, sempre compostos orgânicos voláteis…

Francisco Ferreira: Hum, hum.

Catarina Barreiros: Como é que podemos ver isso?

Ana Paula Mesquita: É pedir, no fundo, é uma tinta à base de… base aquosa não tem cheiro. Portanto, sei lá, quem quiser pintar um quarto, por exemplo, de uma criança é importantíssimo usar uma tinta que não emite cheiro. E esse cheiro está associado a compostos perigosos, não é? Portanto, uma tinta com baixo teor de…

Catarina Barreiros: Até é mais agradável, não é?

Ana Paula Mesquita: Muito mais agradável. E tem durabilidade, eu não vendo tintas, mas sinceramente acho que eu…

Francisco Ferreira: Exato. Não… neste momento, são tão boas como as outras. E, portanto, é uma opção óbvia, não é?

Catarina Barreiros: OK. Portanto, tintas com menos… voláteis…

Ana Paula Mesquita: Sim.

Catarina Barreiros: … incorporados.

Francisco Ferreira: Exato.

Ana Paula Mesquita: completamente

Catarina Barreiros: Arejar a casa, aproveitar para tirar o ar viciado, como chamamos os leigos. Chamam ar viciado…

Francisco Ferreira: Exatamente.

Catarina Barreiros: … os experts…

Ana Paula Mesquita: Usar-se pouco lareiras, quem… eu adoro lareiras…

Catarina Barreiros: OK.

Ana Paula Mesquita: …dá-me um prazer especial ver ali o crepitar, a chama, acho muito bonito, mas usar o menos possível, porque…

Catarina Barreiros: Qual é a melhor alternativa, nesse caso?

Ana Paula Mesquita: O elétrico é sempre… um aquecimento elétrico.

Catarina Barreiros: Aquecimento elétrico?

Francisco Ferreira: Não.

Ana Paula Mesquita: Ou bomba de calor, não é?

Francisco Ferreira: A bomba de calor é realmente a melhor alternativa.

Catarina Barreiros: OK.

Francisco Ferreira: Ou seja, é bom… quando nós falamos bomba de calor, as pessoas, muitas vezes, não sabem… “O que é isso da bomba de calor?”. Bem, no fundo, é o ar condicionado.

Catarina Barreiros: Certo.

Francisco Ferreira: No fundo, o ar condicionado. Nos países nórdicos, eles dizem: “Bem, é bomba de calor para o quente e é o ar condicionado para o frio”. Nós, aqui, falamos do ar condicionado, que serve, no fundo, para…

Catarina Barreiros: Para aquecer e para…

Francisco Ferreira: …o quente e para arrefecer.

Catarina Barreiros: Ok.

Francisco Ferreira: Mas volto a dizer: em muitos casos, mais importante do que isso, é nós cuidarmos da eficiência da casa: termos janelas duplas, termos um bom isolamento nas portas, naquilo que podem ser as medidas mais estruturantes para, depois, também, pouparmos o uso desse tipo de equipamentos.

Catarina Barreiros: E esse é todo um episódio que nós já gravámos e tudo, que é a eficiência energética.

Francisco Ferreira: Exatamente.

Catarina Barreiros: Boa, portanto, ficamos aqui com algumas dicas para melhorar a nossa qualidade do ar interior e exterior. E, agora, vamos respirar um bocadinho de alívio, porque, afinal, não é tudo mau. E sabemos, no entanto, que é “Agora ou nunca”.

 

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