Mensagem do Presidente do Conselho de Administração Executivo

António Mexia

 

“Fomos pioneiros na aposta em energias renováveis. A nossa capacidade de antecipação posiciona-nos de forma distintiva para liderar a transição energética.”

CARO ACCIONISTA, 

Vivemos num mundo em profunda transformação a uma velocidade nunca antes vista, num movimento de globalização e interdependência das atividades económicas, colocando enormes desafios e oportunidades em termos da organização das nossas sociedades, instituições nacionais e internacionais, regulação e funcionamento dos mercados. Vivemos também num tempo de avaliação do papel das companhias no nosso sistema, no qual o sucesso depende da capacidade de antecipar, executar e, acima de tudo, se reinventar no quadro obrigatório de partilha de compromissos com todos os seus stakeholders. 

É neste contexto que a emergência do combate às alterações climáticas e da descarbonização da economia se tornam fatores decisivos na perspetiva de longo prazo das empresas. Se, por um lado, a geração de energia, através de fontes renováveis, tem vindo a acelerar, fortemente suportada pelo aumento exponencial da sua competitividade face às tecnologias de geração convencional, por outro, o aumento do financiamento e do investimento em empresas sustentáveis reflete, já hoje, uma consciencialização crescente desta questão. O compromisso com a descarbonização total da economia em pouco menos de 30 anos é um desafio que tem de estar no topo da agenda tanto das instituições privadas e públicas como da sociedade civil. 

 

LÍDERES GLOBAIS EM ENERGIAS RENOVÁVEIS 

A aposta na geração de energia renovável e a eletrificação de outros sectores da sociedade são fundamentais para garantir uma indispensável transição energética que deve ser justa e inclusiva. Este é um compromisso que o Grupo EDP assume há mais de uma década e que resultou na nossa afirmação enquanto líder global nas energias renováveis, com mais de 20 GW de capacidade renovável instalada, contribuindo para 66% da nossa geração. Adicionalmente, temos uma exposição internacional considerável, com presença em 19 geografias e com mais de 65% do resultado operacional bruto recorrente a ser gerado fora de Portugal. 

O desenvolvimento sustentável tem sido um dos principais eixos da nossa estratégia. Através de várias iniciativas, investimentos e de um fundo de responsabilidade social, temos contribuído ativamente para a concretização de 9 dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas. Temos também demonstrado um compromisso claro com os 10 princípios da United Nations Global Compact, alinhando-nos com as melhores práticas na área dos direitos humanos, do trabalho, do ambiente e do combate à corrupção. Distinguimo-nos ainda como a primeira empresa portuguesa a apostar num instrumento de dívida verde, tendo já emitido o equivalente a 3 mil milhões de euros em Obrigações Verdes, que atualmente estão listadas em vários índices de referência, nomeadamente no Bloomberg Barclays MSCI Global Green Bond Index e no ICE BofAML Green Bond Index, e, mais recentemente, fomos convidados a integrar um novo segmento específico de Obrigações Verdes da EURONEXT Dublin. Fruto deste posicionamento sustentável e verde, somos reconhecidos, desde 2008, pelos índices de sustentabilidade Dow Jones como uma das empresas mais sustentáveis do Mundo, ocupando o primeiro lugar entre as utilities integradas e tendo obtido, em 2019, o melhor resultado de sempre.

 

COMPROMETIDOS NA ENTREGA DOS NOSSOS OBJETIVOS ESTRATÉGICOS 

A estratégia da EDP materializa-se também na solidez dos nossos resultados. O ano de 2019 foi de novo marcado por uma boa performance do Grupo, com o resultado operacional bruto recorrente a aumentar para 3,7 mil milhões de euros, mais 13% comparativamente com 2018, suportado no bom desempenho das nossas equipas. Atingimos um resultado líquido recorrente de 854 milhões de euros, o que representa um crescimento de 7% face ao ano anterior, potenciado por resultados recorde ao nível da EDP Renováveis e da EDP Brasil e pela verificação de um resultado operacional histórico na EDP Comercial. No último ano, colocámos em operação 888 MW de capacidade instalada renovável e demos visibilidade sobre 3 GW adicionais, quase que duplicando o pipeline assegurado, que já corresponde a 76% dos 7 GW definidos até 2022. No offshore, reforçámos a aposta de liderança com a celebração da parceria com a Engie, a qual duplica a nossa ambição em pipeline, e com a entrada nos Estados Unidos da América, materializada num contrato de fornecimento de 804 MW com o Estado do Massachusetts

 

“Em 2019 demos visibilidade sobre a entrega dos nossos compromissos estratégicos para 2022, reforçando a confiança na nossa forte capacidade de execução”

 

Atuámos também na otimização do nosso portfolio em linha com o plano estratégico, dando continuidade à nossa estratégia de venda e rotação de ativos, com um encaixe de aproximadamente mil milhões de euros, e mais de 300 milhões de euros em mais valias. Com vista ao equilíbrio dos nossos ativos na Península Ibérica, chegámos a acordo para a alienação de 1,7 GW de capacidade hídrica em Portugal, no valor de 2,2 mil milhões de euros, contribuindo para a redução da exposição ao risco hidrológico e para a diminuição da concentração do nosso portfolio de geração. 

Nas redes, reforçámos a nossa aposta na transmissão no Brasil, com a aquisição de mais um lote de 142 km que corresponderá a um investimento total de 407 milhões de reais. Em paralelo, demonstrando o foco da EDP na excelência da execução, estão já em operação 187 km de linha, 20 meses antes do prazo inicialmente previsto. Quanto ao fortalecimento do balanço, a capacidade de entrega refletiu-se na redução da dívida líquida sobre o EBITDA para 3,6x, o nível mais baixo desde 2007. Também mantivemos o foco no controlo de custos e na eficiência e otimização das nossas operações, com o OPEX a diminuir 1% (excluindo crescimento). 

 

FOCADOS EM LIDERAR UM FUTURO ELÉTRICO 

A entrada em 2020 marca o arranque de uma década que será decisiva para atingir a neutralidade carbónica em 2050 e acelerar a alteração profunda de comportamentos que esta exige. Reconhecendo esta urgência, juntámo-nos a outras empresas do sector para solicitar que a União Europeia firme o objetivo de atingir a neutralidade carbónica até 2050 e que aumente a meta de redução de emissões de gases com efeito de estufa de 2030 para, pelo menos, 55% (comparativamente a 1990). 

 

Estamos cientes do nosso papel no esforço global para descarbonizar o planeta. Queremos liderar pelo exemplo e contribuir ativamente para atingir o objetivo de limitar o aumento da temperatura global a 1.5ºc” 

 

Comprometemo-nos, e tencionamos cumprir, as metas ambiciosas do pacote legislativo Clean Energy for all Europeans e fomos uma das primeiras 87 empresas a aceitar o desafio lançado pela Organização das Nações Unidas e a subscrever o Business Ambition for 1.5ºC, sendo que o nosso compromisso de descarbonização já foi reconhecido pela Science Based Target Initiative como tendo um nível de ambição alinhado com o Acordo de Paris, numa trajetória bem abaixo dos 2ºC.

O compromisso é nosso, mas o esforço terá de ser conjunto. Por isso, promovemos continuamente parcerias para criar valor e responder aos desafios do sector. Seja através da colaboração com instituições internacionais como o Sustainable Energy for ALL (uma iniciativa da Organização das Nações Unidas que junta governos, organizações internacionais e sector privado para a promoção do acesso à energia sustentável), seja através da criação de um ecossistema de inovação aberta com startups, a EDP quer estar do lado da solução. Temos trabalhado e estabelecido parcerias que permitem criar soluções inovadoras para estes desafios à escala global: 

  • Adquirimos participações minoritárias em mais de 30 startups, num valor superior a 36 milhões de euros, para nos mantermos na linha da frente da inovação. O recente investimento na GridBeyond, uma empresa líder na oferta de serviços de sistema por via da gestão da flexibilidade nas cargas para clientes empresariais nos mercados do Reino Unido e Irlanda, é um exemplo claro desta estratégia. 
  • Entrámos recentemente na Nigéria, com um investimento na Rensource, uma empresa que gere e desenvolve sistemas descentralizados de energia solar, reforçando a nossa aposta no acesso à energia para uma transição energética justa e inclusiva.
  • Nas energias renováveis emergentes, lideramos o desenvolvimento de plataformas eólicas flutuantes, através do projeto Windfloat Atlantic, que envolve a instalação de turbinas de 8,4 MW (a maior turbina alguma vez instalada numa plataforma desta natureza) em águas profundas, inacessíveis até à data, onde os recursos eólicos abundantes podem ser aproveitados.
  • Na mobilidade elétrica, estamos em passo cada vez mais acelerado, tendo celebrado uma parceria com 10 empresas de referência no sector brasileiro da mobilidade para o desenvolvimento do maior projeto de instalação de carregadores ultrarrápidos da América do Sul, com mais de 2.500km de extensão. 

Também avaliamos e testamos continuamente potenciais alternativas de geração de energia para nos mantermos na vanguarda do sector: 

  • Temos desenvolvido vários projetos de hibridização de tecnologias renováveis, entre os quais se destacam os 11.000 painéis solares flutuantes com armazenamento que serão instalados na central hídrica com bombagem do Alqueva. 
  • Estamos ainda a desenvolver, na Central de Ciclo Combinado do Ribatejo, um projeto-piloto de produção de hidrogénio, com armazenamento e co-combustão com gás natural, já que o hidrogénio, gerado a partir de fontes renováveis, será uma solução clara para resolver o chamado last mile da descarbonização de sectores e indústrias onde a eletrificação direta não é uma opção.

 

Desafiamo-nos, diariamente, com objetivos cada vez mais ambiciosos e exigentes para a construção de um futuro mais sustentável, um futuro elétrico” 

 

Até 2030, iremos reduzir as nossas emissões específicas de CO2 em 90% (comparado com 2005) assente, sobretudo, no aumento da geração a partir de fontes de energia renovável (que representarão mais de 90% da nossa geração) e na saída do negócio do carvão, com o encerramento da Central de Sines, a maior central a carvão do Grupo, até 2023. Junto dos nossos clientes, vamos promover a mobilidade elétrica com o objetivo de atingir um milhão de clientes até 2030 e de potenciar a instalação de mais de 4 milhões de painéis solares. Iremos também prosseguir com o esforço da transição para as smart grids na Península Ibérica e da digitalização da nossa organização. 

O nosso ponto de partida é único e distintivo e coloca-nos em vantagem para responder aos desafios do futuro e liderar a transição energética. No entanto, será a nossa capacidade de entrega e o foco na nossa visão e ambição que nos farão marcar a diferença neste processo de mudança indispensável e irreversível. Orgulhamo-nos do que já atingimos, mas queremos assumir a responsabilidade de ir mais além. A década decisiva já arrancou e o futuro não pode esperar mais - o futuro é hoje. 

Convido-vos a conhecerem em maior detalhe a nossa operação ao longo das páginas deste relatório e a acompanharem a energia e o empenho com que estamos a preparar esse futuro - um futuro que será elétrico.