Transcrição Podcast - Eficiência Energética

Informações:

Duração do áudio: 00:44:59

Convidados: João Pedro Gouveia e Jorge Lea

Entrevistadora: Catarina Barreiros

 

Transcrição:

Somos todos agentes de mudança. E juntos podemos transformar o mundo. É agora ou nunca! Um podcast EDP que discute o presente e procura soluções para um futuro mais sustentável.

Catarina Barreiros: Bem-vindos a mais um episódio do podcast “É Agora ou Nunca”. O meu nome é Catarina Barreiros e hoje vamos falar sobre eficiência energética. O que é a eficiência energética, qual é que é o papel das renováveis para contribuir para a eficiência energética, falaremos um bocadinho do setor doméstico e do setor industrial. E tenho comigo dois convidados que nos vão precisamente ajudar a esclarecer essas perguntas. Temos João Pedro Gouveia, formado em Engenharia do Ambiente pela Nova, onde também se doutorou em alterações climáticas e políticas de desenvolvimento sustentável. Trabalha atualmente como investigador e project manager do Cense e do projeto Drawdown. Tem participado também em inúmeras publicações científicas e contribuiu para o livro, o bestseller internacional do New York Times, do livro do Drawdown. E foi reconhecido, também, como uma pessoa de trabalho de investigação na área da energia desde 2008 em edifícios e alterações climáticas. E é também membro fundador da DERA e da APEEN. Temos também connosco Jorge Leal, licenciado em Engenharia Mecânica pela Universidade do Porto. Esteve cerca de oito anos ligado a projetos e auditorias energéticas. Em 2012, juntou-se à EDP na área de eficiência energética e há cinco anos assumiu também o cargo de subdiretor de serviços de energia B2B na EDP Comercial. É aqui mesmo que atua na área de eficiência energética, nos serviços técnicos especializados e nos sistemas solares fotovoltaicos para autoconsumo. Muito obrigada por estarem aqui os dois comigo. E, se calhar, começamos pela primeira pergunta – pergunta-chave – que é: o que é a eficiência energética? Quem quer começar?

Jorge Leal: João, força.

João Pedro Gouveia: Posso começar. Pronto, a eficiência energética é nós conseguirmos ter um output, o mesmo output de serviço de energia com menos energia possível. E, portanto, não é a perspetiva só de reduzir o consumo, reduzir o conforto, reduzir as necessidades, mas sim acomodar as mesmas necessidades com menor input e de consumo de energia final.

Catarina Barreiros: Hum-hum. Hum-hum. OK. Portanto, estamos a falar de… quando falamos em eficiência energética, falamos também da redução de energia necessária e depois da melhoria do acesso à energia que também é um tema super interessante. E eu sei que tem trabalho feito também na área da pobreza energética e como é que está relacionada esta questão da eficiência energética, da pobreza energética? Como é que as duas estão, se podem...

João Pedro Gouveia: Sim, a eficiência energética é vista como um dos pilares importantes para a redução do consumo de energia no futuro e também a redução das emissões, não é? E, portanto, surge ali como uma fatia importante que é preciso investir não só na parte dos edifícios, no setor industrial, nos transportes, no desenho das cidades, como um pilar relevante. No entanto, quando se está a pensar na redução do consumo e na redução das emissões, claro que as renováveis têm sempre um papel, assim, importante. E, portanto, nessa lógica é preciso aqui ter o balanço das duas.

Catarina Barreiros: Hum-hum. Hum-hum. OK. E já que falou da indústria também era um ponto que queria pegar. Qual é o status atual? O que é que… como é que estamos a nível de eficiência energética? Estamos muito melhores do que estávamos há uns anos, existem mais tecnologias, mais adoção...

Jorge Leal: Sim. Na indústria, Portugal foi pioneiro desde logo. Em 1982 lançámos um regulamento quando na Europa ainda nada se fazia, em que impúnhamos às indústrias com maior consumo energético, mais intensivas do ponto de vista de consumo, que tinham que realizar auditorias energéticas, que tinham de estabelecer planos de racionalização de energia onde identificavam medidas que depois tinham que as implementar e tinham que cumprir com o seu plano. E, portanto, em 82 já fazíamos isto. Ainda a Europa não estava muito consciente disto, sobre estes temas. Entretanto, dentro da indústria, em 2008 tivemos uma revisão desse regulamento que impõem estas medidas, largamos mais o portfólio de empresas que têm que cumprir com estes regulamentos. Portanto, eu diria que na indústria há um track record enorme de história feita, já realizada, mas continua a haver um potencial enorme ainda para poder capturar. Portanto, ainda há aqui muito trabalho para ser feito de forma a tornarmo-nos muito mais eficientes.

João Pedro Gouveia: Sim e a mim parece-me que o que foi feito na indústria, concordo. Nos edifícios e na parte do setor residencial e dos serviços isso não aconteceu. O primeiro regulamento térmico do edificado apareceu em 1990. Na Europa, no centro da Europa e Europa do norte já existiam os regulamentos desde 1960, por exemplo. E então, o que aconteceu foi que, na minha perspetiva, foi sendo descurado a eficiência energética pelos governos, pelas empresas, em termos dos edifícios, no setor residencial e nos serviços. E eu acho que tem uma explicação, também muito direta. Para já, não havia objetivos muitos específicos para diferentes tipos de utilizadores e de consumidores, que na indústria existia. Depois, na indústria também há aquela perspetiva logo de custo/eficácia, logo de rentabilidade em termos do negócio. Portanto, substituíram-se por um motor mais eficiente, por uma caldeira ou com outro tipo de combustível, havia uma perspetiva logo de retorno financeiro. O que em termos de edifícios e nas famílias e nas empresas mais pequenas de serviços, não é óbvio. Portanto, por isso é que em Portugal temos muita falta de conforto térmico, as questões de pobreza energética. Eu diria até mesmo um subconsumo de energia final quando comparado com outros países europeus com o mesmo clima e nas mesmas condições. E, portanto, tudo isso criou aqui um delay muito grande no país. E, na verdade, se formos ver nos últimos 10 anos, talvez 20 anos, pouco se fez de efetivo para melhorar a eficiência energética nos edifícios.

Jorge Leal: Sim. Sim, eu diria que houve aqui as tentativas com o regulamento depois da evolução desse de 90, não é? Com o surgimento em 2006 do novo regulamento que impõe aqui o certificado energético…

Catarina Barreiros: Certo

João Pedro Gouveia: Sim.

Jorge Leal: …e todo esse trabalho. Mas ainda assim, insuficiente claramente. E aquilo que nós hoje vemos no património edificado, 70-80% com um nível de certificação muito, muito baixo, não é? Portanto, poucos edifícios com classe A+, com uma perspetiva do ciclo de vida. Esse é outro ponto chave quando olhamos para a eficiência energética, é que os retornos deste tipo de investimentos, raramente se fazem com paybacks muito rápidos (um ano, dois anos).

Catarina Barreiros: A curto prazo.

Jorge Leal: E que muitas vezes as empresas têm essas métricas como processo de decisão. Na eficiência energética ou se faz trabalho de médio/longo prazo e se vai mantendo uma competitividade porque, já agora, gostava de acentuar essa parte que é a eficiência energética é mais um mecanismo das empresas serem competitivas. De reduzir os seus custos de exploração, de funcionamento…

Catarina Barreiros: Hum-hum. E para as pessoas também, não é? Para o setor doméstico também.

Jorge Leal: Absolutamente, absolutamente. Ou seja, assim que falamos de eficiência energética estamos a falar de competitividade, poupança, com o mesmo nível de conforto, com o mesmo nível de atividade. Portanto, sem mexer no output como dizia, mas de uma forma muito mais eficiente, com menor custo. E, portanto, no património edificado, continuamos a assistir a um edificado com muitas mais caraterísticas térmicas, seja de isolamento, seja nos vãos envidraçados, nos sistemas mecânicos que depois temos que renovar e retirar aquelas cargas térmicas todas que estão presentes. Portanto, pouco conforto, faz-se o investimento, mas não se tem uma perspetiva de longo prazo do ciclo de vida daquele sistema que ali está, portanto como um ponto-chave.

João Pedro Gouveia: Sim, e o que acontece, na minha perceção, é que o boom da construção em Portugal deu-se ali nas décadas de 70/80, mesmo 90, em que não havia o tal regulamento térmico e o que aconteceu foi que se quis construir rápido e barato. E, portanto, chegamos aqui hoje com esse tal stock de edifícios em que 70 a 80% é ineficiente, têm classe C ou inferior. Portanto, abaixo do atual regulamento térmico preconiza bem menos, não é? E, portanto, o problema aqui agora é como se faz essa transformação. Porque em Portugal temos taxas de renovação do edificado muito, muito baixas: 0,05% ao ano da renovação do edificado. Portanto, aqui nesta perspetiva, quando olhamos para metas europeias, para as estratégias da Comissão Europeia – da Renovation Wave, por exemplo, não é? – com a média europeia da renovação é cerca de 1% ao ano dos edifícios, com a ambição de triplicar essa taxa de renovação. É preciso perceber qual é o modelo de negócio para essa renovação. Como é que integramos os diferentes agentes do mercado? Porque estamos a falar de uma distribuição de agentes que é muito diferente de instalar, por exemplo, uma grande central fotovoltaica.

Jorge Leal: Hum-hum. Claro.

Catarina Barreiros: Claro.

João Pedro Gouveia: Que aí temos… os agentes económicos são poucos, do que estar a transformar três milhões e meio de habitações em Portugal, não é?

Catarina Barreiros: Certo.

Jorge Leal: Claro.

João Pedro Gouveia: E, portanto, está muito distribuído, as pessoas também têm que reconhecer o valor da eficiência energética e não pensar só… como talvez na indústria faz sentido, que é o retorno financeiro, não é? Porque aqui há muitos, muitos... a eficiência energética nas habitações tem muitas vantagens mais alargadas. Na parte da saúde, na parte do conforto térmico, na parte da produtividade… nós agora, nesta perspetiva do Covid, mais tempo em casa, não é? Tudo isto, fez alertar as pessoas – eu acho – para o problema das condições da casa, como é que aquecem a casa, qual é o melhor equipamento para aquecer a casa. Tudo isto é importante neste balanço.

Jorge Leal: E nesta perspetiva do doméstico, quer dizer, aplica-se num todo, mas no doméstico é essencial a questão do momento da compra do equipamento ou de quando se pensa em fazer a intervenção “o que é que se vai fazer?”. Se vou comprar uma nova caldeira, por exemplo, pensar, mais uma vez, não nos focarmos apenas no momento da compra, no custo, mas sim naquilo que vai ser a exploração: que fatura energética vem a seguir. Porque durante 10 anos, temos aquele equipamento ali bloqueado. Dificilmente teremos depois uma substituição direta que fosse…

Catarina Barreiros: Estamos ali vinculados àquele equipamento.

Jorge Leal: Aquilo vai ser um racional. E, portanto, esse momento de decisão, entendo que é crítico, que haja uma visão e uma perspetiva mais alargada de ciclo de vida, lá está, para podermos tornar as nossas decisões mais racionais. De outra forma fica…

João Pedro Gouveia: E isso acontece quando estamos a falar de uma indústria, acontece de forma quase natural, não é? Porque há planos de investimento, há modelos de negócio, há financiamentos alternativos...

Catarina Barreiros: Foco na rentabilidade, não é? Como estava a falar.

João Pedro Gouveia: Mas porque é mesmo para tornar o sistema mais eficiente em termos globais de uma indústria que na casa as pessoas não têm o mesmo conhecimento, não é?

Jorge Leal: Sim.

João Pedro Gouveia: Não têm o mesmo conhecimento técnico, não têm a mesma capacidade de investimento, não têm a mesma perceção porque é muito diferente eu estar a investir num ar condicionado – é um consumo ativo de energia – do que estar a investir em janelas. E, portanto, às vezes é mais fácil – percebe-se isso mesmo, nos financiamentos que o Estado tem dado – que as pessoas apostem mais em tudo o que é o equipamento que é mais fácil de adquirir e mais fácil de instalar do que pôr isolamento numa parede, mudar uma janela, pôr isolamento no telhado. E tudo isso é muito mais estrutural para este problema que temos em Portugal também do conforto térmico. E então, se apostarmos e se conseguirmos trazer às pessoas as vantagens e qual é o papel desse tipo de transformações, é muito mais relevante, na minha perspetiva, do que só focar mesmo na integração das energias renováveis, mesmo na parte da eficiência dos equipamentos, um ar condicionado, bomba de calor, o que for, mas a perspetiva passiva, não é?

Jorge Leal: Claro.

João Pedro Gouveia: De eu estar a transformar a minha casa de forma a torná-la mais resiliente e ter conforto térmico sem ter que consumir energia porque, no limite, o que estamos aqui a falar do consumo de energia tem a ver com as emissões.

Jorge Leal: Claro.

João Pedro Gouveia: A energia por si só podia não ser um problema.

Catarina Barreiros: Sim, claro.

João Pedro Gouveia: Mas com a perspetiva das alterações climáticas e da necessidade da redução das emissões, toda a perspetiva passiva de consumo de materiais, adicional de materiais, extração de recursos, é muito relevante, quando olhando para a cadeia de valor.

Jorge Leal: Sim João. E acrescento esta parte: nós quando olhamos para a eficiência energética e vemos a intensidade energética e comparamos isso com a Europa, por exemplo nós vemos que Portugal tem uma intensidade energética superior à maioria dos outros países da União Europeia, cerca de 10%. Apesar de termos feito um bom caminho de redução, temos vindo a diminuir esta intensidade energética, ainda assim, estamos acima dos nossos pares. E quando vemos que temos, por exemplo, um clima bem mais ameno do que os nossos pares, os nossos congéneres – não é? – aqui da União Europeia. Portanto, deveríamos ter ou teríamos condições para poder ter um nível inferior, claramente àquilo que é esse padrão. O que é que vejo? Vemos nos transportes o principal consumidor de energia primária em Portugal, cerca de 36%. Depois vemos os edifícios e daí esta questão dos edifícios ser tão crítica. E vemos também a indústria com cerca de 30%. Podemos quase dizer é um terço, um terço, um terço.

Catarina Barreiros: É responsabilidade partilhada.

Jorge Leal: Exato. Há aqui transportes, indústria, edifícios são claramente aqui o que temos de trabalhar. Transportes ainda muito insipiente, não é? Agora começar a eletrificar e, por essa via, a descarbonizar de alguma forma. A parte da indústria, como digo, acho que é onde temos feito mais.

João Pedro Gouveia: Sim.

Jorge Leal: Continuo a dizer que existe muito para fazer. Portanto, existe muito e sobretudo é importante como temos muita PME é muito importante…

João Pedro Gouveia: É muito diferente da grande indústria.

Jorge Leal: Claro. É muito importante descer ainda ao nível desta obrigatoriedade e, infelizmente, é por obrigatoriedade e não é o mindset ainda do empresário olhar para a eficiência energética como um vetor estratégico da sua gestão.

Catarina Barreiros: Certo, certo.

Jorge Leal: Mas é superimportante baixar ainda este patamar de obrigatoriedade para que alarguemos esta base de empresas a que estariam abrangidas por estes programas e, depois, a parte dos edifícios que já temos vindo aqui a falar do estado crítico que têm para podermos transformar.

Catarina Barreiros: E, no fundo, é engraçado porque as PME hão de ter mais ou menos o mesmo problema que o setor doméstico, é muito disperso…

Jorge Leal: Sim.

Catarina Barreiros: …há muita pouca literacia muitas vezes que de quem está a tomar as decisões. Isto é algo que talvez ao longo dos episódios temos vindo a perceber que é: a questão foca-se sempre na literacia. A literacia é a parte… não conhecemos enquanto consumidores, enquanto gestores de pequenas empresas, as tecnicidades.

Jorge Leal: Sim, eu diria isto para fazer aqui um paralelismo, era como se numa empresa nós quiséssemos começar a fazer transformação. Quer dizer, eu estou doente e começo logo a tomar os medicamentos sem antes fazer uma radiografia…

Catarina Barreiros: Sem ir ao médico. Certo.

Jorge Leal: …sem antes ir ao médico, exatamente. Portanto, nas empresas é relativamente parecido. Nós não sabemos e achamos que começamos a trocar umas coisas e, portanto, há pouco estudo, as decisões muitas vezes são por impulso, são porque enfim… conheço alguém, já tenho o meu prestador de serviços que me vai orientar. Mas há pouco estudo. Faz-se poucas auditorias, faz-se poucas instalações de sistemas de monotorização de energia que nos ajudam a compreender, efetivamente, como é que é o consumo para depois, numa base factual, podermos ser muito mais assertivos naquilo que são as intervenções que fazemos.

Catarina Barreiros: Claro.

Jorge Leal: Portanto, acho que ainda carece aqui. Enfim, há bons exemplos também. Nas PME, felizmente, temos feito um caminho e há alguns bons exemplos, mas há muito por fazer, sem dúvida.

Catarina Barreiros: Claro.

João Pedro Gouveia: Isso, a mim, faz-me lembrar, digamos, aquela ideia quase dos três Dês da energia, não é? Da parte da descarbonização, digitalização e até na perspetiva da distribuição e democratização da energia. Porque por exemplo quando estamos a falar, OK, na parte da descarbonização é fácil. Fácil... não é fácil, mas…

Catarina Barreiros: Mas sabemos como, sim.

João Pedro Gouveia: Está muito ativo, percebe-se a integração das renováveis, como é que se consegue o solar, o eólico e assim. Na parte da distribuição e da rede distribuída, a importância da resiliência dos sistemas. E aqui, aquela perspetiva de como é que uma empresa, como é que uma habitação, como é que um edifício de serviços do Estado, pode integrar nas energias renováveis, mas de forma distribuída. Agora, um bom exemplo - esta semana no Texas, não é? - temos ouvido os problemas de três milhões de pessoas sem acesso à energia, com -10 ºC em casa.

Catarina Barreiros: Sem luz.

João Pedro Gouveia: E isto mostra o papel, não só de estarmos ativamente a construir mais centrais, mais energias renováveis, mas o papel da eficiência energética em si. Porque se aquelas casas – claro que está limitado, está muito frio – fossem mais eficientes, se houvesse…

Catarina Barreiros: A construção americana é…

João Pedro Gouveia: Pronto. Mas se fossem mais eficientes por si só, se tivessem uma rede mais distribuída de energia, portanto o papel do fotovoltaico por exemplo descentralizado,imaginemos num futuro onde isso....

Catarina Barreiros: Hum-hum. Uma comunidade que pudesse ser...

João Pedro Gouveia: Comunidades de energia com baterias, talvez este problema não fosse tão alargado. Estamos a falar de uma cidade inteira, de um estado inteiro quase sem energia.

Jorge Leal: Claro.

João Pedro Gouveia: E, portanto, o papel da eficiência nessa perspetiva de se eu tenho uma unidade de energia e se eu consigo ser mais eficiente a usá-la é muito, muito relevante, não é?

Catarina Barreiros: Claro.

João Pedro Gouveia: E depois eu estava a falar da parte também da importância da digitalização neste processo. E aqui vem o conhecimento de que se estava a falar que é: se eu tiver mais smart meters (os contadores inteligentes), se tiver os sistemas de controlo e se eu conhecer como é que eu estou a consumir energia, é muito relevante para as soluções. Porque, OK, eu já percebi o meu perfil de consumo, consome mais aquele equipamento em minha… e quando se fala numa casa, fala-se numa indústria pequena e numa indústria grande. É exatamente igual o processo.

Jorge Leal: Sim. Sim, sim.

João Pedro Gouveia: A escala é diferente, mas o processo é o mesmo.

Jorge Leal: Sim. A grande vantagem… e hoje em dia com o preço destes equipamentos a cair de forma drástica, é acessível.

Catarina Barreiros: Era isso que eu ia dizer.

Jorge Leal: Hoje em dia já não é uma coisa utópica que só as grandes empresas é que conseguem fazer com um sistema supercomplicado. Não. É acionável. Está aqui à disposição.

Catarina Barreiros: Mesmo para as pessoas e para as pequenas empresas.

Jorge Leal: Sim. Claramente.

Catarina Barreiros: Lembro-me de ter lido no Drawdown sobre os termóstatos inteligentes e pensei: isto deve ser uma coisa caríssima. E depois ia ver e havia adaptadores para equipamentos já existentes que custavam 20 ou 30 euros e fui ver e a EDP até tem soluções dessas.

Jorge Leal: Sim. Correto.

Catarina Barreiros: Quer dizer, é uma coisa que está relativamente acessível à maioria da população e uma pessoa pensa “20,00€. 20,00€ eu consigo em dois meses de eletricidade, fica isto pago se eu conseguir baixar o meu consumo em 40%”, sei lá. E consigo com, efetivamente, sabendo o que estou a consumir.

Jorge Leal: Pois. Sobretudo, eu acho, é esta questão de conhecer, não é? Primeira coisa é, enfim, é lato em várias áreas que é medir. Temos de perceber o que está a acontecer.

João Pedro Gouveia: Claro.

Jorge Leal: Onde é que estou a consumir, quais são os problemas que tenho, quais são os equipamentos em que realmente faz toda a diferença intervir, controlar. Depois, então, passamos a uma lógica de que medidas é que vou implementar, como é que financio, como é que garanto que tecnicamente isto está tudo aqui bem consistente e bem harmonizado. E depois a outra parte que é como é que eu agora mantenho aquela poupança. Essa é outra preocupação que é… e na indústria isto é muito palpável, uma preocupação muito crescente que é: fizemos o investimento, como é que eu agora garanto que a poupança é retida e prolongada no tempo.

Catarina Barreiros: Sim, uma rentabilização.

Jorge Leal: Uma rentabilização. Porque por vezes – e nós temos, infelizmente, muitos casos no país – fazemos o investimento, até fazemos um investimento com state of the art, muitas vezes com excelentes equipamentos, e depois a exploração porque não temos a formação adequada, porque não temos os técnicos, porque enfim, várias razões.

Catarina Barreiros: Ou porque não era adequado esse equipamento à nossa necessidade.

João Pedro Gouveia: Por isso é que o conhecimento é muito importante. É o conhecimento da situação real, o que se está a passar, não é? E aqui a lógica do big data e de mais dados, do acesso aos dados, sensores de humidade, sensores de temperatura, consumo de energia... isso tudo é muito relevante para estas combinações e análises. Porque eu consigo ter perfis de consumidores, consigo ter como é que consigo equilibrar redução das necessidades de energia, por exemplo com climatização ativa ou com integração de renováveis, de uma forma mais custo/eficaz do sistema, não é?

Catarina Barreiros: Certo.

João Pedro Gouveia: E, portanto, nós aqui estamos a falar muito da perspetiva da casa, mas se formos alargar, por exemplo, qual é o papel da eficiência energética à escala global? Não é? Quando estamos a falar, e é um salto grande, mas é nessa perspetiva que é: “OK, eu em casa tenho esta combinação custo/eficaz que eu posso desenhar e perceber”, mas quando estamos a pensar na escala global com países desenvolvidos, economias em crescimento, é muito diferente, também o que é que são as soluções em cada sítio. Não é?

Catarina Barreiros: Claro.

João Pedro Gouveia: Não se aplica a mesma regra, em termos da janela. A mesma janela que eu vou instalar em Portugal, não é a mesma janela que se instala na Rússia.

Jorge Leal: Claro.

João Pedro Gouveia: E se não houver esse conhecimento do mercado, se não houver conhecimento de todos os agentes para se saber qual é a melhor solução adequada a cada contexto, torna-se um problema também de falta de descrédito no mercado e no conhecimento.

Jorge Leal: Absolutamente. E pegando nesta última parte do João, que é: as tecnologias existem. O conhecimento existe. Enfim, tem havido obviamente muita inovação e tem havido muita redução naquilo que é o custo e, portanto, esta democratização no acesso e os técnicos. O conhecimento existe. O que eu acho que ainda nos está a faltar é esta perspetiva enquanto consumidores, enquanto decisores de uma escolha informada de procurar essa sedimentação do conhecimento, de procurar efetivamente onde é que estão os técnicos que têm esse conhecimento e nos podem ajudar, e essa perspetiva de médio/longo prazo. Tendemos a fazer umas decisões muito baseadas no custo de aquisição, porque é mais barato e sem ter esta visão mais médio/longo prazo. E a eficiência energética é decisiva. Nós não conseguimos resolver.

João Pedro Gouveia: Mas aí há um ponto importante que é: tem que realmente haver confiança no mercado todo de eficiência energética. Se pensarmos nas casas, as pessoas, nem toda a gente é especialista na área da energia, nem têm esse objetivo. E, portanto, têm de confiar que há uma entidade, ou há ou vou me dirigir à minha Câmara Municipal, ou vou dirigir-me a uma empresa ou a uma consultora ou outra entidade, que me consegue dar ali um pacote fiável, credível que é uma solução adequada ao meu contexto. E, portanto, as pessoas... há uma grande iliteracia energética das pessoas, não é? Mas, por isso é que é preciso. Nem toda a gente tem que dominar todas as vertentes.

Catarina Barreiros: Claro.

João Pedro Gouveia: E então aqui é que a cadeia é importante.

[00:20:00]

Catarina Barreiros: E aí é o papel da apresentação ao consumidor. Por exemplo, falamos das certificações energéticas para as casas, como existem para os eletrodomésticos, não é?

João Pedro Gouveia: Sim. Isso é muito... para mim isso é um ponto muito importante, que é: valorizar a certificação energética. E falou-se que no momento da compra de um equipamento eu tenho que perceber que se realmente eu estou a investir num equipamento A++ que até me pode custar – uma máquina de lavar ou um frigorífico – mais 100 ou 200,00€…

Catarina Barreiros: Mas que isso vai…

João Pedro Gouveia: …na utilização – e é preciso as contas serem bem feitas – que eu dou, posso estar a recuperar até ao final de um ano. Ou no final de dois. Portanto, compensa imediatamente. O frigorífico é o equipamento que mais consome em casa. Não devido à potência, mas devido à…

Jorge Leal: Continuidade.

João Pedro Gouveia: …continuidade.

Catarina Barreiros: Está sempre ligado. Para salvar comida.

João Pedro Gouveia: Exato. E nessa perspetiva é preciso haver esta...

Catarina Barreiros: Sim, sim.

João Pedro Gouveia: No momento da compra, não só dos equipamentos, mas por exemplo numa casa. Eu acho que tem de haver aqui um bocado políticas que também valorizem a certificação energética e a qualidade de uma casa na aquisição. Em que os consumidores consigam perceber “OK, eu tenho uma casa A. Qual é a diferença para eu ir alugar ou comprar uma casa C?” E eu acho que não está ainda claro para os consumidores como é que pode ser feito ou como é que se valoriza. Porque há aquela dimensão, OK…

Catarina Barreiros: Nem se percebe a diferença entre um A e C. Estávamos a falar antes de entrar em gravações, sobre isso mesmo, que era: para um consumidor, quando vai comprar um frigorífico, por exemplo, entre comprar um A ou um A+++, o consumidor acha que é mais ou menos a mesma coisa, porque está ali no… quando na realidade, a diferença entre um A++ e um A+++ anda ali muito parecida como a de um A para um B.

João Pedro Gouveia: Mas aí há indicadores efetivos de consumo.

Catarina Barreiros: São visíveis. Sim, Sim.

João Pedro Gouveia: Eu estou a comparar 200 Kw/hora com 300, por exemplo.

Catarina Barreiros: Certo, certo.

João Pedro Gouveia: Numa casa, ali é um bocadinho tem a ver com o conforto térmico e as pessoas depois não percebem que vão gastar, se calhar...

Catarina Barreiros: O que é que impacta.

João Pedro Gouveia: Exato, não têm aquela ligação direta. E, portanto, eu estou a comprar uma casa certificada com A, mas não estou a ver como é que isso depois me afeta no consumo real.

Jorge Leal: Sim, quanto é que eu pago mais, não é?

João Pedro Gouveia: Só depois com a utilização, em que como tivemos várias semanas de frio, as pessoas é que perceberam “bom, eu agora tenho que ligar o aquecedor a óleo ou o ventilador. Olha, se calhar devia ter umas janelas melhores.” Pronto.

Catarina Barreiros: Hum-hum. O tema das casas passivas de que falou há bocadinho, é todo um tema relacionado com isso, não é?

Jorge Leal: Sim, absolutamente. E esta parte da renovação do edificado, voltando outra vez a este tema, enfim, está a ser perspetivado, anunciado já uma perspetiva de se investir cerca de 143 mil milhões de euros para se renovar, até 2050, todo o património edificado.

Catarina Barreiros: Parece muito dinheiro.

Jorge Leal: É o que está dentro desta bazuca europeia que se está a preparar.

Catarina Barreiros: Melhor do que zero.

Jorge Leal: Enfim, há essa perspetiva. E, portanto, aproximar os edifícios do conceito do…

Catarina Barreiros: Do passive house.

Jorge Leal:Do passive house e do consumo nulo, não é? Muito para fazer, porque a eficiência energética é isso mesmo, é olharmos para a parte passiva primeiro, construir bem, garantirmos que temos os isolamentos corretos, que temos bem dimensionados os envidraçados, que temos toda esta lógica da ventilação bem controlada, que também é outro ponto super importante.

Catarina Barreiros: Hum-hum. Os próprios materiais de construção que se escolhem, a maneira como se orienta um tijolo na construção de uma casa pode permitir ou impedir a ventilação, não é? Quer dizer são coisas tão…

Jorge Leal: Claro. Mas atenção vamos ter conceitos como a inércia térmica. Tudo isto são conceitos que, enfim, que vão trazer aqui o conforto para depois, então, pensarmos “que sistemas ativos é que vou colocar? Como é que eu vou, efetivamente agora, controlar a temperatura, [por exemplo] de uma moradia?” Isto porque se nós olharmos – e insisto neste ponto – de uma forma passiva, em grande maioria das nossas habitações nós não teríamos, em princípio, grandes necessidades de arrefecimento. Porque temos um clima ameno. Portanto, aquecimento seguramente que temos.

Catarina Barreiros: Menos no interior Alentejano. Talvez aí.

Jorge Leal: Pronto. Correto, correto. Há sempre algumas…

Catarina Barreiros: Ainda assim há uma pala que se pode pôr para sombrear a janela.

Jorge Leal: E diminuímos. Porque esse consumo… o ponto é que se não temos estas preocupações na fase de construção, na fase de conceção, posteriormente vamos ter que investir em sistemas mecânicos que procurem dar esse conforto. E eu digo procurem dar, porque muitas das vezes, mesmo com sistemas mecânicos, vai ser impossível atingir aquele conforto e vamos ter essa fatura de energia, e, sobretudo, deveremos com esta parte passiva reduzir esse consumo, minimizar esses consumos. E temos todo o ciclo de exploração depois do edifício para poder rentabilizar este investimento que fazemos na parte inicial. E essa é outra falsa questão que é: mas é muito mais caro construir com um edifício passivo e com algumas preocupações bioclimáticas? Errado. Está mais do que documentado isso, não é.

João Pedro Gouveia: Mas aí o problema que nós temos é que – e não é um problema português, é um problema europeu – temos muitos edifícios construídos, temos as cidades construídas.

Jorge Leal: Claro.

João Pedro Gouveia: E, portanto, aqui a dúvida não é tanto – e a mim parece-me que não é tanto – na nova construção ter isso em consideração, mas como construímos pouco e remodelamos pouco, a questão é como é que eu transformo…

Catarina Barreiros: O existente.

João Pedro Gouveia: …três milhões e meio, quatro milhões de edifícios só na Europa. Daí o renovation wave e até liga muito com as estratégias da Comissão Europeia, que nós também temos vindo a trabalhar, ligado à pobreza energética, que é: como é que com a eficiência energética conseguimos estar também a mitigar pobreza energética? E aqui quais é que são as estratégias, qual é os modelos de negócio, quais é que são os agentes, que tipos de financiamento inovadores para transformar, efetivamente, [00:25:00] o parque edificado existente. Em bairros históricos. Também temos de trabalhar nessa perspetiva. Como é que eu num bairro histórico consigo ter soluções mais inovadoras? Mesmo o conceito… uma ideia que é: os bairros de energia positiva, muito falado agora com os objetivos europeus. Os projetos que existem à escala europeia é em bairros novos. Isso é fácil. As soluções existem.

Catarina Barreiros: De raiz, não é?

João Pedro Gouveia: É fácil construir de raiz. Agora, como é que eu faço isso num bairro de Lisboa, ou no Porto? Isso é que é o difícil.

Jorge Leal: Certo, sem dúvida. João, eu diria, é fácil e eu acho que ainda não é assim tão fácil. Porque infelizmente ainda continuamos a construir de uma forma muito má.

Catarina Barreiros: Porque ainda não há literacia também de quem constrói, não é?

Jorge Leal: Pois, claro.

Catarina Barreiros: O construir uma casa passiva, nós os três sabemos do que é que se fala.

Jorge Leal: Certo.

Catarina Barreiros: Eu estudei arquitetura, não sei por causa do meu curso, não foi no curso que aprendi.

Jorge Leal: Certo. Mas esse é outro ponto que acho também pilar nesta transformação que queremos fazer, que é a questão da formação. Nós dizemos: os técnicos estão aí, as técnicas – sobretudo é: as técnicas já estão aí, conhecidíssimas, maduras.

Catarina Barreiros: Sim.

Jorge Leal: A formação dos técnicos que estão a… dos agentes que atuam neste setor…

Catarina Barreiros: É lenta.

Jorge Leal: …é lenta. E acho que aqui há muito para fazer.

Catarina Barreiros: Mesmo na renovação.

João Pedro Gouveia: E o papel dos regulamentos também é um bocadinho esse.

Jorge Leal: Claro.

João Pedro Gouveia: Pode haver um desfasamento, mas eu acho que nos regulamentos temos objetivos de neutralidade carbónica em Portugal para 2050. Se temos o Plano Nacional de Energia Clima para 2030 com objetivos… estes objetivos todos têm de ser ambiciosos. E depois ambiciosos e transportes para regulamentos ambiciosos.

Jorge Leal: Isso.

João Pedro Gouveia: Porque um edifício que eu construo hoje, estará cá em 2050. E, portanto, se eu não estiver a aplicar as melhores técnicas que existem, os melhores materiais que existem já estamos mal.

Catarina Barreiros: Já não chego neutro a 2050.

Jorge Leal: Já estamos a fazer o tal erro de construímos um problema que depois vamos ter que o resolver à frente, não é?

João Pedro Gouveia: Sim.

Jorge Leal: E, portanto, este momento de construção, da compra de equipamentos, toda esta parte quando estamos a criar, a conceber, é decisivo para aquilo que vão ser 20, 30, 50 anos. Um edifício tem essa vida útil, não é?

João Pedro Gouveia: E nessa ideia até queria dar aqui uma ideia global até em termos do papel da eficiência energética, por exemplo, comparado com as renováveis. Em estudos prospetivos para 2050 à escala global, é identificado que as renováveis e a substituição dos combustíveis vão ter um papel muito importante na redução das emissões alinhada com os cenários, por exemplo, de 1,5 ºC, em cerca de 80%, portanto a substituição de combustíveis e esta perspetiva de integração de renováveis vai representar 80% dessa redução e a eficiência energética apenas 20. O que é que a eficiência energética tem de papel muito importante? É que vai atenuar o crescimento económico perspetivado com o aumento da população mundial, com o aumento das necessidades em vários países (no sudeste asiático, mesmo em África, na América Latina) com as necessidades de mais coisas.

Catarina Barreiros: Certo, certo. Estamos a consumir cada vez mais.

João Pedro Gouveia: Cada vez mais. E o papel da eficiência energética nos cenários que se veem a nível global é ali para atenuar.

Jorge Leal: A minimização desse aumento.

Catarina Barreiros: Exato.

Jorge Leal: É minimizar, o que infelizmente também mostra que é preciso… não é infelizmente, mas é preciso pensarmos de forma integrada. Não é só olhar “bom, eficiência energética vai resolver”. Não, não vai.

Jorge Leal: Claro.

João Pedro Gouveia: Vai atenuar o crescimento, que é muito relevante, mas nessa perspetiva, infelizmente, não vai fazer-nos reduzir as emissões associada à redução do consumo de energia com as emissões. E, portanto, este papel da integração de renováveis, a eletrificação dos sistemas, a parte de eficiência energética dos equipamentos e com a parte passiva, é tudo bastante crítico para esta evolução.

Jorge Leal: No fundo tudo isto são partes do mesmo ecossistema, digamos assim, para fazermos uma transição energética.

Catarina Barreiros: De um pacote. Certo.

João Pedro Gouveia: Sem dúvida! Não podemos apostar só em renováveis, ou só a parte passiva, renováveis, vários tipos de renováveis.

Jorge Leal: Exatamente.

João Pedro Gouveia: Porque depois, por exemplo, há aquela potencial discussão: “eu não posso ter só solar, eu não posso ter só eólica”. E é aqui um balanço...

Catarina Barreiros: É a eficiência das próprias energias.

João Pedro Gouveia: Não é só intrínsecas.

Jorge Leal: É um mix, é um mix que criamos.

João Pedro Gouveia: É um mix, é a otimização do sistema energético todo. E quando estamos a falar à escala global é isso: é não podemos ter o mundo inteiro solar. Ou se calhar há países há de ser as ondas, outros países há o recurso à biomassa e o recurso aos resíduos.

Jorge Leal: Certo.

João Pedro Gouveia: Portanto, a combinação e a panóplia de soluções é muito relevante: não apostarmos só num cavalo.

Catarina Barreiros: Sim, sim.

Jorge Leal: Sim. E esta perspetiva de mix energético que temos vindo a fazer, e na nossa base hoje, cada vez, mais renovável, tem entrado com boa intensidade, tem-nos permitido baixar, por exemplo, a nossa dependência energética enquanto país, não é? Se tínhamos há dez anos atrás 80% dessa dependência, hoje em dia estamos com 75 e a meta que temos é chegar em 2030 a 65%. Portanto, o crescimento da renovável, sobretudo aí do solar – claramente aqui o solar vai ter um papel, assim o diz também o nosso PNEC, o nosso Plano Nacional de Energia Clima – de crescer oito vezes. Seja o solar descentralizado, portanto com a possibilidade da democratização de acesso, com o cidadão comum a poder produzir a sua própria energia, ou pelo menos parte dela.

Catarina Barreiros: Certo.

Jorge Leal: E, portanto, numa lógica de autoconsumo, produzir o consumidor produto local e consumo local. Mas também por via das centrais centralizadas e em termos de potência que é instalada. Portanto, no solar muito crescimento, o eólico seguramente também vai continuar a ser um vetor, sobretudo com a hibridização.

João Pedro Gouveia: Sim, e eficiência. Cada vez as tecnologias estão mais eficientes intrinsecamente.

Jorge Leal: Claro.

João Pedro Gouveia: Portanto, temos a eólica com as pás muito maiores…

Jorge Leal: Isso.

João Pedro Gouveia: …os fatores de capacidade muito superiores, todos os anos os custos destas tecnologias, especialmente do solar e agora mais recentemente das baterias, há quebras de 80% de custo ao ano. Tudo isto vai democratizar o acesso, tornar mais fácil a integração destas tecnologias no mercado.

Jorge Leal: E vai, creio que vai ser também crítico esta capacidade de digitalização de criar os tais mecanismos de controlo porque, por exemplo, quando as baterias entrarem massivamente e serem acopladas a sistemas solares fotovoltaicos de autoconsumo, numa base, outra vez, falemos doméstica, vai ser necessário termos depois sistemas de controlo que permitam fazer esta gestão de quando é que eu faço uma carga da bateria, quando é que eu faço essa descarga. E muda radicalmente aquilo que será a forma como nos relacionamos com a energia.

João Pedro Gouveia: Portugal já é um bom exemplo nisso, não é? Tínhamos a gestão que a REN faz da transmissão, do transporte de eletricidade, também a EDP a várias escalas. Portugal é um bom exemplo. Portugal é dos países mundiais que mais conseguiu integrar renováveis variáveis, não é? Eólica… Pronto, e isso é muito importante também mostrar que há as várias perspetivas: descarbonizar, digitalizar, democratizar. Tudo isso é muito relevante nas várias dinâmicas.

Catarina Barreiros: E não são incompatíveis. E é isso que é engraçado ver. Muitas vezes nós achamos que temos de fazer uma escolha. E que temos de escolher: ou é democrático ou é… mas a verdade é que quando apostamos na eficiência energética, nas renováveis, apostamos em soluções melhores a longo prazo que são melhores também para as economias locais, não é? A tal questão de descentralizar e de conseguirmos ser autónomos, de se vier um nevão não ficarmos sem energia.

João Pedro Gouveia: Ou uma seca em Portugal.

Catarina Barreiros: Ou uma seca, sim. É mais provável em Portugal.

Jorge Leal: E uma parte que agora falava, sobre esta questão das comunidades locais, tem a ver com a capacidade da eficiência energética gerar emprego local. Que este é outro aspeto superimportante da eficiência energética que é, enfim, um excelente promotor. Porque por cada milhão que eu invisto crio cerca de 15 novos postos de trabalho.

Catarina Barreiros: OK.

Jorge Leal: E, portanto, este é outro drive muito importante local.

João Pedro Gouveia: Na construção de habitações eu não vou...

Jorge Leal: Sim. Não faço importação, não é?

João Pedro Gouveia: Não faço importação de um empreiteiro ou de um negócio.

Catarina Barreiros: Certo.

João Pedro Gouveia: Portanto, isso é muito relevante também: o emprego que esta perspetiva da renovação do edificado, tecnologias de formas espalhadas pelos edifícios residenciais e de serviços nos vários municípios é muito importante para a transformação económica também.

Jorge Leal: Sim. E acho também que não é uma questão… por exemplo, olhando para o financiamento, porque pensamos sempre: “como é que fazemos isto? Onde é que há dinheiro para isto?”. E a minha perspetiva não é por uma questão de falta de financiamento.

Catarina Barreiros: Incentivo, sim.

Jorge Leal: Não é. Existem vários mecanismos, desde… sejam apoios estatais… e vimos agora o plano…

João Pedro Gouveia: As casas mais sustentáveis.

Jorge Leal: As casas mais sustentáveis.

Catarina Barreiros: Que foi logo superconcorrido.

Jorge Leal: [sobreposição de vozes] já eram sete mil candidaturas e, na verdade, foram financiadas duas mil.

Catarina Barreiros: Sim.

Jorge Leal: Portanto ficaram cinco mil ali em stock à espera de ver o que é que vai acontecer. Já foi anunciada uma nova linha.

João Pedro Gouveia: Sim.

Jorge Leal: Mas financiamento a nível europeu, como dizia no ELPRE, que é a Estratégia a Longo Prazo para a Renovação de Edifícios, os tais 143 mil milhões que estão ali a ser, enfim, preparados, veremos se vão ver a luz do dia. Mas, mesmo através de entidades bancárias, as empresas de serviços energéticos, há vários mecanismos para financiar a eficiência energética.

Catarina Barreiros: Então o que é que está a faltar? Porque nós temos as soluções, temos…

Jorge Leal: A minha perspetiva pessoal, e da minha experiência, falta que o ator, o decisor – sejam através das empresas, sejam através do consumidor final, doméstico – tenha uma maior consciencialização de que este negócio é um negócio que existe, e ele pode tirar partido dele, não é de curto prazo. Não é num ano ou em dois anos, salvo alguma ou outra medida, os LEDs, por exemplo, porque há outros. Mas, salvo uma ou outra medida, não são medidas que tenham retorno ao final de um ano ou dois. São retornos de quatro, cinco, seis anos. Mas são de uma forma estruturante. Portanto, é uma poupança que fica, não é?

Catarina Barreiros: OK.

João Pedro Gouveia: Mas aí também há um ponto muito importante, que é muitas vezes falado, que tem que ver com a transição justa, não é? E quando estamos a falar nessa perspetiva de financiamento e de modelos de financiamento, e dos planos que são lançados para apoiar as pessoas, estamos aqui, eu diria, a focar-nos na classe média, que tem a capacidade de investir alguma coisa e depois tem esse retorno. Foi o que se viu claramente nestes financiamentos. E, portanto, é preciso que toda… na minha perspetiva é: toda a estratégia de descarbonização, alinhada com os objetivos de neutralidade carbónica, de investimento – seja privado ou público – tem de ter sempre na cabeça a lógica “como é que eu vou apoiar nesta transição os cidadãos mais vulneráveis?

Jorge Leal: Claro.

João Pedro Gouveia: Houve benefícios fiscais para janelas, para solar térmico, houve apoios ao investimento ao fotovoltaico, apoios ao carro elétrico, ao veículo elétrico, para a renovação dos edifícios. Mas, as pessoas que não têm disponibilidade financeira…

Catarina Barreiros: As que não têm sequer um carro e que andam de autocarro.

João Pedro Gouveia: Exatamente. Exatamente.

Jorge Leal: Sim.

João Pedro Gouveia: Como é que podemos integrá-los nesta transição? Porque não podemos chegar a 2040/2050 em que temos metade da população de carro elétrico, solar fotovoltaico, bombas de calor…

Catarina Barreiros: E a outra metade de autocarro e combustíveis fósseis.

Jorge Leal: Claro. Isto cria assimetrias.

João Pedro Gouveia: E a outra metade a combustíveis fósseis, a pagar o acesso à rede.

Catarina Barreiros: Mas aí mais uma vez a questão do poder local, da descentralização, consegue ajudar-nos, se calhar, a uma transição mais justa, não sei.

Jorge Leal: Sim. Diria sim, mas diria que temos falhado. Temos falhado. O ECO.AP, acho que é o programa do ECO.AP que era altamente focado para renovação. Para darmos o exemplo do ponto de vista da administração central e da administração local…

João Pedro Gouveia: E nunca se conseguiu.

Jorge Leal: …e nunca conseguiu, salvo um ou outro caso, nunca verdadeiramente ganhar aqui tração e ser um exemplo massivo.

João Pedro Gouveia: Sim.

Catarina Barreiros: OK.

Jorge Leal: No âmbito agora do PO SEUR e do P2020 alguns projetos, felizmente, estão a ver a luz do dia e estão a conseguir fazer essas transformações. Mas continua a haver aqui uma grande lacuna na parte do Estado conseguir dar esse exemplo e, naquilo que é o seu património edificado, que é imenso, mais uma vez, de poder sinalizar isso e fazer esse balanceamento entre a classe média, que tem outro poder de compra, com aqueles que são mais desfavorecidos e poder levar, de certa forma, esta transição energética também a essas populações, que é essencial para a coesão, desde logo, não é?

João Pedro Gouveia: Claro. Claro.

Catarina Barreiros: Sim, portanto falta aqui uma entidade – não é? – o Estado, que se predispõe, desde já, a dar o exemplo, vá, e que… mesmo nas frotas, mesmo… portanto, quer dizer, é uma realidade, os transportes públicos são uma realidade. Portanto, a descarbonização… falava-se há bocadinho, depois o transporte, nós podemos falar de carros elétricos, mas a maioria das pessoas não anda de carro próprio. Quer dizer, anda de transportes. Portanto, tudo isto depois tem problemas relacionados com a transição justa, não é? Portanto, nós precisamos arranjar soluções que sejam…

Jorge Leal: Massificáveis e que possam chegar a toda a população, não é? Dizer também, sinto, depois, enfim, daquela parte do programa ECO.AP não ter corrido assim tão bem, que muitos municípios têm conseguido fazer recentemente trabalho nesta área. E por exemplo na gestão das suas frotas, vemos essa eletrificação, muitas vezes, a começar por aí. E, por exemplo, até é mais à frente do que propriamente muitos dos privados, do setor privado. Portanto, há aqui também alguns aspetos onde o poder central está realmente a dar esse exemplo.

João Pedro Gouveia: Sim, por exemplo nos LEDs na iluminação pública, isso foi ali uma medida que se percebeu que havia logo ali uma rentabilização em termos económicos e temos claramente muitos municípios em Portugal nessa transição. Portanto, é a primeira medida é a iluminação pública para LEDs. Depois o resto têm que avaliar, não é? E eu também acho que aqui, igualmente como as famílias, falta o tal conhecimento. Porque um município – Portugal tem mais de 300 municípios, não é? – esta desagregação de conhecimentos, nem todos os municípios têm um especialista de energia, um eletrotécnico ou um engenheiro.

Jorge Leal: Sim. Sim. João, aí acho que as comunidades intermunicipais, por exemplo, e as agências de energia, foi um excelente mecanismo para conseguir levar esses técnicos, esse conhecimento técnico para dentro dos municípios, para puxar por estes assuntos e garantir aqui uma coerência e uma consistência naquilo que é feito.

João Pedro Gouveia: Essas entidades até podem ser muito importantes – tenho falado um bocadinho sobre isto – como o tal agregador também do conhecimento em termos de energia. Se eu quiser renovar a minha casa, moro em Bragança, quero renovar a minha casa, não sei nada, onde é que eu vou?

Jorge Leal: Correto.

João Pedro Gouveia: E, portanto, posso ir à minha junta de freguesia, que é mais capaz de ser mais difícil porque ainda é mais descentralizado, mas talvez ao município, ou uma CIM ou à parte das agências de energia da região, pode ser muito útil para ajudar as pessoas nesta transição. É o polo. Ninguém pode ir falar com o Governo, não é? “Quero investir.” Mas há ali um intermédio importante.

Catarina Barreiros: Certo.

João Pedro Gouveia: Sim, sobretudo porque há muitas medidas que são comportamentais, que não exigem investimento, há muitas medidas que são, enfim, com algum investimento mas que o retorno ainda assim é – quando olhamos para o tal ciclo de vida daquele equipamento, daquele sistema que ali está – 20%. Se um sistema solar térmico, por exemplo, que tem uma vida útil esperada com alguma manutenção de 20-25 anos. Se eu tiver que esperar 5 anos para recuperar aquele investimento, enfim, vou ter 20 anos ainda, 15 a 20 anos de utilização fruto, não é?

Catarina Barreiros: A utilizar fruto…

Jorge Leal: É positivo, não é?

Catarina Barreiros: Certo, certo.

João Pedro Gouveia: Isto é transformador. Portanto, há muitas medidas que são acionáveis e que as pessoas realmente podem tocar. Que essa é outra coisa que eu acho que é interessante e que ainda não está suficientemente disseminada, é que nós… cada cidadão tem realmente o poder de acionar uma série de medidas que vão ter impacto na sua fatura de energia. Eu gosto sempre de dizer isso: a fatura é a multiplicação de um preço por um consumo.

Jorge Leal: Claro.

João Pedro Gouveia: E eu nos kilowatts/hora eu consigo trabalhar.

Catarina Barreiros: É o tal controlo, não é, que estava a falar.

Jorge Leal: É o que as pessoas conseguem perceber.

João Pedro Gouveia: Portanto, se entrar naquilo que é o nosso raio de ação. O que é que eu posso impactar? O que é que eu posso decidir? Onde é que eu tenho realmente poder de decisão.

Catarina Barreiros: Sim.

Jorge Leal: Mas aí também leva – o que eu vejo muito as discussões dos cidadãos normais, ditos assim – em que olham para a fatura e… não é não perceber a fatura, é só: “como é que eu subi 20,00€ este mês?” Porquê? Porque não têm esse conhecimento, não temos esse conhecimento na nossa casa, quanto é que está a gastar o aquecedor a óleo, o ar-condicionado aqui dez minutos. “Mais vale ar-condicionado ou aquecedor a óleo?

Catarina Barreiros: Só aquecimento das águas sanitárias. A maior parte das pessoas não tem noção do impacto que o aquecimento das águas sanitárias tem logo na conta. Quer dizer… a verdade é que há coisas comportamentais que podemos aplicar em casa. Nós somos, em nossa casa – não querendo personalizar muito – mas nós conseguimos ter consumos de energia de metade de pessoas que têm o mesmo estilo de vida que nós. Por comportamentos que são saber que metade do nosso consumo está no frigorífico e no aquecimento das águas sanitárias e, portanto, o que é que nós podemos fazer para isso? OK, rentabilizar quando se aquece as águas, nós temos um termoacumulador inteligente, por exemplo, que conseguimos, portanto… claro que isto são coisas se calhar mais específicas, mas os LEDs, os tais LEDs que estávamos a falar, como uma medida tão importante, custa 1,00€ um LED, hoje em dia. Não é como há dez anos.

João Pedro Gouveia: Há cinco.

Catarina Barreiros: Há cinco.

Jorge Leal: Certo. Mas esta questão, por exemplo, das águas quentes sanitárias é essencial, porque a iluminação representa cerca de 4 a 5% do consumo elétrico de uma moradia.

João Pedro Gouveia: As pessoas acham que é muito superior também.

Catarina Barreiros: Sim, é só “desliga as luzes!”, mas não é: "Não tomes banho um quarto de hora com a água a ferver!"

Jorge Leal: Exatamente.

João Pedro Gouveia: É isso.

Jorge Leal: E, portanto, nós fazemos investimento de LED, excelente, ótimo, mas a preocupação com a água quente sanitária é fundamental, não é? Porque se não resolvermos… e nós temos horas de sol no nosso país como não existe na Europa central. E, por exemplo, a Áustria aqui há cerca de para aí uma década lançou um programa onde instalou quatro milhões de metros quadrados de painel solar térmico.

João Pedro Gouveia: A nós escapou-nos esse processo.

Jorge Leal: E nós não chegamos, teremos quê? 400, 500 mil metros quadrados instalados de painel e temos horas de sol como a Europa central não tem.

João Pedro Gouveia: Sim. Sim. Sem dúvida.

Jorge Leal: Portanto, há aqui n medidas que nós podemos acionar, que estão disponíveis. É preciso formar técnicos para depois dar essa devida assistência, porque também já tivemos más experiências no passado. Desde logo no solar térmico que nos custa muito, porque quando se quebra a confiança do consumidor depois é muito difícil e leva muito tempo – eu diria pelo menos uma geração – a recuperar.

João Pedro Gouveia: Por isso é que a disseminação até das boas práticas, de um bom funcionamento: "Eu mudei esta janela e que funcionou e estou a ver o impacto…". Estas histórias também são importantes para as pessoas. Na perspetiva em que as pessoas não sabem o que hão de escolher, não é? Podem dizer assim “Bom, eu tenho aqui 5.000,00€. Vou gastar no quê? Vou comprar uma bomba de calor ou vou mudar a minha janela ou vou pôr isolamento?” Esta falta de conhecimento é, realmente, relevante. E, portanto, é preciso encontrar polos de apoio para os consumidores, para esta lógica.

Jorge Leal: Claro.

Catarina Barreiros: Essa é uma boa questão, se calhar, para avançar uma última pergunta que é: efetivamente, onde é que podemos agir que tenha, que seja mais eficiente? Que é se eu tiver… tenho recursos limitados, onde é que eu devo agir primeiro? Qual é que é – obviamente aqui há respostas para a indústria, respostas governamentais – mas se tivéssemos de fazer uma análise do ciclo de vida, quase, às soluções que existem de eficiência energética, quais é que são – se calhar se cada um disser uma já chegamos as duas – as mais importantes?

João Pedro Gouveia: Nós falamos já aqui sobre isso. A parte passiva das habitações, focando nos edifícios, é essencial. Ou seja, eu não posso investir primeiro em fotovoltaico se ainda não resolvi o meu problema…

Catarina Barreiros: De construção, portanto.

João Pedro Gouveia: …de construção. O que é que se vê muita gente também? Investe na climatização, tem um bom ar condicionado, tem bomba de calor, mas depois acaba por estar a aquecer a rua.

Catarina Barreiros: Certo.

João Pedro Gouveia: Porque… e vê-se muito. As pessoas têm essa perceção, que é: “eu comprei um aquecedor a óleo, até foi barato, estou a usá-lo. Mas tenho permanentemente que estar a aquecer. Durante a noite tem que estar oito horas ligado, porque senão eu vou ter frio durante a noite”. E então estou a gastar dinheiro, estou a gastar energia, com a consequência toda, emissões e assim. Mas, ou seja, a parte estrutural, nas janelas, nas paredes, nos telhados das habitações, para mim é a primeira medida.

Jorge Leal: Sim, a parte passiva. Claramente. Subscrevo, só poderia.

Catarina Barreiros: Certo.

Jorge Leal: E tocaste nestes dois pontos… se falarmos de residencial temos de tratar da parte dos equipamentos da cozinha, sobretudo, frigoríficos e tudo o que está ligado à confeção, e a parte das águas quentes sanitárias. Portanto, isto são os dois sítios que, eu diria, vale a pena pôr logo o foco todo onde as pessoas deveriam começar porque representam 60 a 70% do seu consumo de energia e, portanto, não vale a pena estarmos a olhar, se calhar, para os outros sem resolver verdadeiramente estes dois.

João Pedro Gouveia: E cobrimos os três principais, não é? A parte da cozinha, a parte do aquecimento e do arrefecimento e a parte das águas quentes. E, portanto, já temos ali uma combinação.

Jorge Leal: Claro. Se passarmos para a indústria, ou para empresas. Para empresas. Não precisa de ser indústria, para as empresas, aquilo que eu posso recomendar é: auditoria energética.

João Pedro Gouveia: Hum-hum.

Catarina Barreiros: OK.

Jorge Leal: Vamos medir, vamos perceber, vamos fazer um raio-X, se me permitem a expressão, como é que está a empresa, o que é que eu estou a consumir, para depois, aí sim, tomarmos decisões muito mais fundamentadas, muito mais suportadas.

Catarina Barreiros: Para agir hoje, não é? Para não acontecer aquilo que estávamos a falar de daqui a cinquenta anos não termos a neutralidade carbónica por uma decisão de hoje. Portanto, resta-nos dizer que é agora ou nunca!

 

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